Residente do município de Cacuaco, zona da CAOP-B, em Luanda, Antonica Fernando Gouveia contou hoje à Lusa que, pese embora ter dado pontos de referência aquando do processo de registo eleitoral, com atualização do seu cartão eleitoral, “não sabe até agora onde vai votar”.

“Porque nos arredores temos cerca de três assembleias de voto e, pela mensagem que enviámos à Comissão Nacional Eleitoral [CNE], ela dirige-nos para um outro local e mesmo na igreja em que nos foi indicada não encontramos nenhuma assembleia de voto”, disse.

Já Simões António, de 31 anos, revelou que foi transferido de Luanda, onde reside, para votar na província do Namibe, a mais de mil quilómetros de distância, desconhecendo as motivações, uma vez que fez a atualização do cartão de eleitor e a prova de vida na capital angolana.

“De seguida indiquei a zona onde vivo, que é na Funda Escola 8012, mas agora, quando consultei onde votar, a informação que me foi dada é que terei de votar na província do Namibe, município do Tômbwa, Escola João Firmino, mesa n.º 4″, explicou.

É uma situação que, acrescentou, o deixa “muito triste” porque o impede de votar. “Até ao momento a CNE não me consegue justificar como é que o meu nome foi parar tão longe do local onde vivo”, lamentou.

“Agora como é que eu fico se as eleições são já na próxima semana”, questionou.

A CNE constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, algumas a serem instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda, estando 9.317.294 eleitores em condições de votar.

No passado dia 12, a CNE informou que a indicação do ponto de referência dado pelos eleitores no ato de registo eleitoral não determinava a sua assembleia de voto, face às dúvidas levantadas pela oposição.

A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, respondia às dúvidas levantadas na véspera, em conferência de imprensa, pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), sobre uma alegada transferência de eleitores para mesas de voto distantes da área de registo.

Outros eleitores, como Adriano João, residente em Luanda e cujo nome consta dos cadernos eleitorais da província da Lunda Norte, a cerca de 1.100 quilómetros, manifestaram à Lusa a sua inquietação.

O cidadão, de 36 anos, exige “explicações”, para “perceber” como se processou esta “transferência” para “tão longe das referências” dadas aquando da atualização e prova de vida, na fase do registo eleitoral, que terminou em março.

“Então, quando fui confirmar a minha assembleia de voto, a informação que me foi passada pela CNE é que o meu nome saiu no Dundo, para meu espanto. Estou preocupado com esta situação”, apontou.

Já Baptista Domingos revelou à Lusa que, mesmo após ter solicitado a segunda via do seu cartão de eleitor, da parte da CNE tem recebido “informações desencontradas” sobre se vai ou não votar nas eleições gerais de 23 de agosto.

“Primeiro fui a um posto da CNE e disseram-me que o número do meu cartão não constava da base de dados, mas o meu grupo aparece em nome de uma outra pessoa e não sei como esse tipo de coisas acontece”, afirmou.

Inconformado com a explicação, referiu que contactou os agentes eleitorais que estão a circular pelas ruas com “os tablets”, nos quais “já aparecem todos os dados completos, mas não conseguem indicar a assembleia de voto”.

“Isto está a deixar-me muito triste porque eu quero exercer o meu direito de voto”, atirou.

Sem saber onde votar no dia 23 de agosto está também Adriano Sandendo, de 23 anos, afirmando que o seu nome “não consta da base de dados”, mesmo após ter solicitado já a segunda via do cartão de eleitor.

“Deste modo, nem assembleia de voto tenho, estou preocupado porque nestas condições não poderei votar”, sublinhou.

A agência Lusa tentou contactar hoje a porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, para comentar as inquietações dos eleitores, mas não foi possível.

Na quarta-feira, a Lusa noticiou que agentes de educação cívica eleitoral em Luanda disseram que muitos cidadãos “não conseguem localizar os nomes nos cadernos eleitorais”, porque não fizeram a prova de vida, no registo eleitoral”, para as eleições gerais de 23 de agosto.

Angola vai realizar eleições gerais a 23 de agosto deste ano, às quais concorrem o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).

A campanha eleitoral, em curso, termina no próximo dia 21.

A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).

O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votado é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do executivo, conforme define a Constituição, moldes em que já decorreram as eleições gerais de 2012.