“É preciso sempre cultivar a paz” para evitar que o país volte a ter guerra, devido a uma crise eleitoral, disse Chissano, em declarações aos jornalistas.

O antigo chefe de Estado (1986-2005) falava à margem da reunião anual da AISEC, uma organização global juvenil, que prepara jovens para funções de liderança.

Questionado sobre se o repúdio do principal partido da oposição aos resultados das eleições autárquicas pode levar o país a mais um conflito armado, Joaquim Chissano sublinhou que é preciso que Moçambique esteja preparado para evitar este cenário.

“O conflito sempre se gere, é preciso estarmos preparados para gerirmos os nossos conflitos”, avançou Chissano.

Apontou o diálogo e a solidariedade como formas de impedir a eclosão da violência, assinalando a importância de incutir nos jovens a cultura de paz.

“O diálogo é a arma principal para mantermos a paz”, frisou.

O antigo Presidente moçambicano afirmou que os jovens que se estão a manifestar contra os resultados do referido escrutínio estão a exercer o seu direito, mas enfatizou a necessidade de cumprimento da lei e do não recurso à violência.

“É direito deles fazerem manifestações” e “não estou a favor nem contra”, sublinhou.

No discurso que leu na reunião anual da Associação Internacional de Estudantes de Economia e Ciências Comerciais, em Maputo, o estadista salientou a importância de criação de oportunidades para a capitalização do potencial dos jovens, mas desafiou esta camada a ser criativa e inovadora para que o seu destino não seja ditado pelos outros.

“Claro que podemos dizer cuidado aí, porque também já tentámos fazer isso e deu errado, mas não somos nós a dizer a iniciativa” que deve ser implementada pelos jovens, prosseguiu.

As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, têm sido tomadas por consecutivas manifestações da oposição apelidadas como de “repúdio” à “megafraude” no processo envolvendo as eleições autárquicas de 11 de outubro e os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que atribuiu a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) em 64 das 65 autarquias do país, e que têm sido fortemente criticados pelos partidos da oposição, sociedade civil e organizações não-governamentais.

A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que nas anteriores 53 autarquias (12 novas autarquias foram criadas este ano) liderava em oito, ficou sem qualquer município, apesar de reclamar vitória nas maiores cidades do país, com base nas atas e editais originais das assembleias de voto, tendo recorrido para o Conselho Constitucional, última instância de recurso no processo eleitoral.

Alguns tribunais distritais chegaram a reconhecer irregularidades no processo eleitoral e ordenaram a repetição de vários atos eleitorais, enquanto na rua se realizam regularmente manifestações de contestação aos resultados anunciados.