A visita oficial de João Lourenço, que se inicia hoje e se prolonga até sábado, “restabelece a normalidade de uma relação que é muito frutuosa de parte a parte e que tem de continuar e desejavelmente deve prosseguir sendo aprofundada”, afirmou o primeiro-ministro, citando o próprio presidente angolano.

Quanto ao problema da regularização das dívidas, o primeiro-ministro admite que “é obviamente um processo complexo, muitas vezes moroso, mas que tem vindo a correr”, sendo importante que “a franqueza e a transparência se mantenham” entre as partes. Pela parte portuguesa, o processo é “pilotado” pela embaixada de Portugal em Angola.

“Muitas empresas têm visto já a sua situação regularizada, outras parcialmente regularizada, outras aguardam a regularização e outras aguardam ainda a certificação e o reconhecimento dos créditos que reclama”, diz António Costa, acrescentando que é um processo que está em curso e “felizmente, com bons sinais até agora”.

Para o primeiro-ministro, o importante para o Estado português é ter sido assegurado que, “em primeiro lugar, Angola reconheceria a existência de situações de dívida para com as empresas portuguesas e que haveria um processo transparente com participação das empresas portuguesas para o apuramento do montante dessas dívidas e a sua certificação”.

“Foi muito importante a forma muito franca como o ministro das Finanças angolano (…) expôs a questão de como havia um conjunto de dívidas reclamadas que não estavam registadas oficialmente na contabilidade das entidades devedoras e, portanto, era necessário certificar a sua existência e quais eram as dificuldades relativamente ao pagamento e ao cálculo designadamente cambial desses montantes”.

Segundo o primeiro-ministro, “isso foi essencial para restabelecer a confiança das empresas portuguesas para poderem investir em Angola”.

Questionado sobre o anúncio feito por João Lourenço de que a empresa angolana Sonangol iria retirar-se da participação das empresas portuguesas, o primeiro-ministro reconheceu que havendo essa decisão, [ela] “terá necessariamente reflexos nas empresas onde a Sonangol tem uma participação”.

“Mas não me compete a mim estar a pronunciar-me sobre as decisões de investimento da Sonangol. E são empresas que estão no mercado, estão abertas. Portanto, naturalmente, se houver alguma recomposição acionista, haverá seguramente outros acionistas que tomem a posição que eventualmente seja libertada pela Sonangol”, conclui António Costa.

A visita de Estado de João Lourenço começa Belém com cerimónias militares e a deposição de uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, antes de uma visita guiada ao Mosteiro dos Jerónimos. O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, recebe o seu homólogo às 11:50.

Às 15:00, o chefe do Estado angolano e o presidente do parlamento português, Ferro Rodrigues, discursam numa sessão solene da Assembleia da República e João Lourenço segue depois para a Câmara Municipal de Lisboa, onde irá receber a chave da cidade das mãos do presidente da autarquia, Fernando Medina.

Na sexta-feira, o Presidente angolano será recebido no Porto pelas autoridades locais antes de discursar no Fórum Económico e Empresarial Portugal/Angola, tal como o primeiro-ministro português, António Costa.

Pelas 11:45 chegará à Câmara Municipal do Porto onde o autarca Rui Moreira lhe vai entregar as chaves da cidade.

João Lourenço é esperado cerca das 12:00 no Palácio da Bolsa para a assinatura de acordos e almoça com empresários portugueses e angolanos, antes de regressar a Lisboa. Já na capital, o presidente de Angola encontra-se às 16:30 com a comunidade angolana residente em Portugal.

No sábado João Lourenço visita, a partir das 09:25, a base naval do Alfeite e almoça com Marcelo Rebelo de Sousa, antes de pôr fim à visita oficial.

A partida de Lisboa para Luanda só está prevista para as 09:00 de domingo.

*Entrevista de Luísa Meireles e Pedro Morais Fonseca e fotografia de Tiago Petinga / LUSA