Em declarações no Palacete de São Bento enquanto inaugura uma nova escultura, da autoria do escultor Rui Chaves, que simboliza uma semente. "Estamos num dia onde é necessário festejar os cravos de há 50 anos mas, sobretudo, lançar à terra novas sementes para os 50 anos que vêm a seguir", disse o Primeiro-Ministro.
António Costa prosseguiu para dizer que "49 anos volvidos sobre a revolução do 25 de abril, que muitos novos anos tenhamos de liberdade e democracia, e que essa liberdade e democracia continue a permitir que floresça a criatividade, a cultura, a inovação, porque esses são os condimentos fundamentais e os grandes fertilizantes do crescimento e do desenvolvimento do nosso país".
Neste dia em que agradecemos sempre aos militares de abril que por nos terem devolvido a liberdade, abrimos sempre a porta da residência oficial [do Primeiro-Ministro] para aqueles que são (...) os verdadeiros detentores do poder, que são os cidadãos. E são os cidadãos que determinam qual é o rumo do país, e que, como disse o hoje o nosso Presidente da República, escolhem o seu 25 de abril. E é assim que queremos manter viva e renovada a nossa democracia", prosseguiu o líder do Governo.
Respondendo a perguntas dos jornalistas, que começaram por questionar o Primeiro-Ministro sobre se o protesto do Chega na Assembleia da República tinha abalado o dia, António Costa foi perentório.
"Acho sempre engraçado porque é que pegam sempre naquilo que é a menor parte do dia e a menor parte da representação parlamentar. Aquilo que eu vi na Assembleia da República, no conjunto dos 230 deputados - e cada um deles não vale menos que cada um dos deputados do Chega -, foi uma esmagadora maioria de pessoas que, primeiro, respeitam e amam a liberdade e a democracia, que respeitam as instituições, que respeitam um Chefe de Estado de um país irmão. E depois vi uma ultra minoria que precisou de fazer barulho para suplantar em ruído a falta de representação popular que efetivamente tem", disse.
A representação popular não resulta do barulho que se faz a bater na mesa, disse aludindo ao protesto do Chega durante o discurso de Lula da Silva no Parlamento, prosseguindo para dizer que "a representação popular resulta dos votos. O Chega teve os votos que teve e é uma ultra minoria; e isso significa que há uma esmagadora maioria que não se revê no Chega. Relevante não é o que o Chega fez", mas sim "aquilo que os outros fizeram, demonstrando que o Chega não é a regra e, felizmente, é só a exceção", concluiu o Primeiro-Ministro.
Questionado sobre se o protesto do partido liderado por André Ventura foi um ato falhado, António Costa respondeu que não, afirmando que "o Chega foi o que o Chega é e demonstrou o que é: não tem respeito pelas instituições, não se sabe portar civilizadamente à mesa da democracia e não sabe respeitar a história - a nossa história - e aquilo que é a nossa relação com os nossos povos irmãos. Uma das maiores riquezas que, quem é patriota, sabe que Portugal tem, é a sua língua. Porque foi uma língua que deixou de ser língua dos nossos 10 milhões de residentes em Portugal, dos 15 milhões de portugueses que residem em Portugal e fora de Portugal, mas que, designadamente, graças ao Brasil, é a quinta língua mais falada no mundo, a mais falada no hemisfério sul, e só o Brasil contribui com 215 milhões de luso-falantes. Qualquer patriota português deve perceber que o Brasil é mesmo o nosso irmão mais velho, a quem nós temos de acarinhar, respeitar e agradecer a parceria de vida que desde há 200 anos tem connosco".
Elogiando depois os discursos de Augusto Santos Silva, bem como o discurso de Lula da Silva e de Marcelo Rebelo de Sousa, referindo que o discurso deste último não foi conciliador, antes pedagógico, porque "demonstrou que uma pessoa da direita democrática, do centro-direita, não se tem de deixar condicionar ou limitar, nem na atitude, nem nas palavras, nem no vocabulário, nem no discurso, por aquilo que é o ruído gerado pelo Chega", afirmou, prosseguindo para dizer que Marcelo demonstrou que em Portugal "temos não só uma esquerda democrática, como temos uma direita democrática que preencha a esmagadora maioria do espaço político português", reafirmando que "o Chega é mesmo uma exceção".
Recordando o discurso do Presidente da República, António Costa recordou que "os democratas devem ser sempre exigentes em relação aquilo que querem", lembrando que em 1975 o estado passou a reconhecer o direito ao divórcio de pessoas da religião católica - "na altura foi uma coisa absolutamente extraordinária, feito em nome da liberdade individual e da autodeterminação de cada um na sua vida pessoal e amorosa" - e fazendo um paralelismo com o tempo que vivemos. "49 anos depois, muitos nem percebem bem do que estou a falar, mas há uma continuidade quando se reconhece hoje o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou o direito a adoção por casais do mesmo sexo. É o mesmo respeito pela liberdade individual e pela autodeterminação de cada um", prevendo que daqui a 20 anos haverá "novas liberdades a poderem desenvolver-se".
Voltando a ser questionado sobre o Chega, o Primeiro-Ministro foi confrontado com o facto de poder contribuir para a visibilidade do Partido, visibilidade essa que criticou anteriormente. "A visibilidade? Eu não tenho nenhum canal de televisão. Eu não tenho nenhuma rádio, eu não tenho nenhum jornal. Quem é que lhes dá visibilidade? São as televisões, as rádios, os jornais, ou é o Primeiro-Ministro?", contra-questionou António Costa, referindo ainda que os media dão ao Partido liderado por André Ventura recebe "uma atenção desproporcional em relação ao que representam na nossa vida coletiva".
(Artigo atualizado às 18h30)
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