Na inauguração da nova sede da Casa da América Latina e da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, em Lisboa, António Costa recordou que Portugal pela geografia nasceu europeu, mas a vida fez o país global, legado que há "o dever de continuar a acarinhar".
"Num mundo em que tantos muros se constroem é bom que haja pelo menos uma cidade que abre as suas portas e diz: são todos bem-vindos porque nós queremos continuar a ser uma cidade global e aberta ao mundo", enalteceu, numa referência à inauguração à qual presidiu.
O primeiro-ministro deu o seu próprio exemplo dessa globalização: "sem isso, por ventura, o meu pai não teria deixado Goa para vir para a Casa dos Estudantes de Império, não teria conhecido a minha mãe e eu não estaria aqui hoje".
"E é essa realidade faz com que hoje, tendo-nos sabido reencontrar no espaço europeu, nunca tenhamos deixado de ser aquilo que a história nos legou e que temos o dever de continuar a acarinhar: sermos cidadãos do mundo, sermos um país aberto ao mundo e ter naturalmente uma capital aberta ao mundo", vincou.
Costa recordou João Soares quando, como presidente da Câmara de Lisboa, decidiu criar a casa da América Latina e alertou que "a diplomacia das cidades vai ser crescentemente importante".
"Pela primeira vez na história da humanidade, mais de metade dos seres humanos habitam nas cidades e essa vai ser uma tendência crescente ao longo deste século. E por isso as relações vão ser menos Estado a Estado e cada vez vão ser relações mais de cidade a cidade", antecipou.
No final da sua intervenção, o primeiro-ministro dirigiu-se ao embaixador brasileiro em Lisboa, Mário Vilalva, que hoje realizou o seu último ato público, referindo que o diplomata terá "profundas saudades" de Portugal.
"Mas, como deixa família e deixa casa, não tenho dúvidas que, tal como sempre nos acontece, quem parte, regressa. Um grande abraço de profunda amizade por tudo o que fez pelas relações entre Portugal e o Brasil", disse Costa.
Antes tinha discursado o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que destacou que estas são hoje "instituições que estão no centro e podem ter um papel importante no centro da nova geoestratégia e da nova geopolítica do nosso tempo".
Até porque, referiu, "o desenvolvimento do projeto europeu mostrou limitações que, há 20 anos", não se antecipavam, e "a valorização de outros espaços de identidade e de afirmação própria" tornaram-se entretanto uma constante.
O autarca socialista recordou que Lisboa será a Capital Iberoamericana da Cultura, em 2017.
"Não é por acaso, neste contexto em que assistimos a discursos e a um regresso de políticas de intolerância, de segregação, de separação como há muito não víamos. Estes laços que estamos a construir em conjunto podem marcar tanta diferença", disse.
Também a secretária-geral da CAL, Manuela Júdice, recordou este evento, no qual a organização "terá novos desafios e novas oportunidades".
A Casa da América Latina, acrescentou, "sem perder as suas raízes em Lisboa, é hoje uma marca nacional".
Na sua intervenção, o secretário-geral da UCCLA, Vítor Ramalho, evocou o candidato português ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, cuja "experiência e genes" transmitem "uma conceção universalista e tolerante da paz".
"É nas situações de crise que mais se devem aprofundar os laços de uma estratégia que vibra em comum, alicerçada na fraternidade e na solidariedade", assinalou.
"A nova sede da UCCLA e da CAL será uma base sólida para que as duas instituições prossigam com as suas missões, aproximando os nossos povos e as nossas cidades", disse o presidente da Câmara de Maputo, David Simango, também presidente da UCCLA.
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