“Estamos hoje a viver um paradoxo: observamos o crescimento da economia a nível global, um decréscimo da pobreza, mas a fome continua a aumentar”, afirmou António Guterres numa conferência em Bali, no âmbito dos Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
O líder da ONU descreveu como “crucial a colaboração estabelecida com o Banco Mundial”, para assegurar fundos, bem como uma crescente introdução da tecnologia para garantir uma resposta cada vez mais rápida.
“Temos de ter a capacidade para detetar, agir rapidamente e de criar resiliência” nos países e nas zonas afetadas, “sendo importante sublinhar que estes casos nunca têm a ver com a falta de alimentos, mas de outras situações como é o caso de conflitos”, explicou Guterres.
“A tecnologia, hoje, é crucial, na prevenção e deteção precoce dos casos”, acrescentou, uma posição secundada pelo presidente do Banco Mundial, ao lembrar que “quando se age rapidamente os custos para erradicar a fome descem cerca de 30%”.
O número de pessoas subnutridas aumentou de 804 milhões em 2016 para cerca de 821 milhões em 2017.
O relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo em 2018″, divulgado em setembro, revela que o mundo regressou a níveis registados há uma década.
Segundo a pesquisa, sem mais esforços urgentes, a comunidade internacional não vai cumprir o objetivo de erradicar a fome até 2030.
De acordo com o relatório, a situação está a piorar na América do Sul e em algumas regiões de África e a tendência de descida na Ásia também está a desacelerar de forma significativa.
Aquando da divulgação dos resultados, a ONU citava na sua página da Internet a especialista em segurança alimentar e nutrição da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que descrevia como difícil a situação nos países lusófonos.
“A prevalência de subalimentação, que é o indicador de fome (…), aponta para quadros piores em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste. Nesses países, é estimado que entre 24% e 30% da população pode estar sem acesso à energia alimentar suficiente para uma vida sã e ativa”, referiu Anna Kepple.
Entre o biénio 2004–2006 e o biénio 2015–2017, a percentagem de pessoas subnutridas em Moçambique passou de 7,7 milhões para 8,8 milhões. Na Guiné-Bissau, subiu de 300 mil pessoas para 500 mil, segundo a ONU.
Já em Angola a situação melhorou, depois de passar de 10,7 para 6,9 milhões, e o mesmo se passou no Brasil, descendo de 8,6 milhões para 5,2 milhões, enquanto que em São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde a situação manteve-se, com menos de 100 mil pessoas subnutridas nos dois países.
Finalmente, em Portugal, os números também se mantiveram inalterados, com menos de 300 mil pessoas afetadas por subnutrição.
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