Num comunicado divulgado pela Organização das Nações Unidas, Guterres condenou a violência entre etnias, e pediu às autoridades do Mali que investiguem a tragédia para levar os responsáveis perante a justiça.

Reclamou ainda a contenção de todos os grupos étnicos do país, pedindo-lhes para evitar atos de vingança, e urgiu o Governo a que todos os atores comecem “um diálogo intercomunitário para resolver as tensões e diferenças”.

Pelo menos 95 pessoas da aldeia de Sobane-Kou, no Mali, foram mortas entre a noite de domingo e hoje por homens armados, disseram à agência de notícias AFP uma fonte das forças de segurança e um representante político.

“Temos 95 civis mortos. Os corpos estão calcinados e continuamos a procura de mais corpos”, afirmou um representante político do município de Koundou, onde fica localizada a aldeia de 300 habitantes, no centro do Mali.

“Foi uma aldeia (da etnia) dogon que foi quase destruída”, disse uma fonte de segurança maliana que se encontrava no local, confirmando um balanço provisório de 95 mortos.

A agência de notícias espanhola EFE referiu que há mais 30 pessoas desaparecidas.

Desde o aparecimento em 2015 no centro do Mali do grupo ‘jihadista’ do pregador Amadou Koufa, que recruta principalmente pessoas da etnia peul, tradicionalmente pastores, os confrontos estão a aumentar entre esta etnia e as comunidades bambara e dogon, grupos ligados à agricultura e que também criaram os seus “grupos de autodefesa”.

O norte do Mali caiu entre março e abril de 2012 sob o domínio de grupos ‘jihadistas’, que em grande parte foram dispersos por uma intervenção militar lançada em janeiro de 2013, por iniciativa da França, e que ainda continua em curso.

Entretanto, há áreas inteiras que estão fora do controlo das forças do Mali, francesas e da ONU, apesar da assinatura em 2015 de um acordo de paz destinado a isolar definitivamente os ‘jihadistas’.

Desde 2015, essa violência espalhou-se do norte para o centro do país e, algumas vezes, para o sul. Os atos de violência estão concentrados principalmente no centro, muitas vezes misturados a conflitos intercomunitários, um fenómeno que também é vivido pelos vizinhos Burkina Faso e Níger.

Essa violência culminou a 23 de março, com o massacre em Ogossagou, perto da fronteira cm o Burkina Faso, de cerca de 160 moradores peul, por supostos membros de grupos de caçadores dogon.

Desde janeiro de 2018, a divisão de direitos humanos e proteção da Missão da ONU no Mali (Minusma) documentou 91 violações de direitos humanos cometidas por caçadores tradicionais contra membros civis da população peul, nas regiões de Mopti e Ségou, tendo feito pelo menos 488 mortos e 110 feridos, indicou a 16 de maio a Minusma.

Por outro lado, grupos armados de autodefesa na comunidade peul cometeram 67 violações de direitos humanos contra a população civil na região de Mopti no mesmo período, causando 63 mortes e 19 feridos, segundo o mesmo relatório da Minusma.