"Pese embora o limitado quadro de tradutores ao serviço da Procuradoria-Geral da República, essa circunstância não constituirá impedimento a que, no respeito do prazo a que alude o art.o 16.o da Convenção Europeia de Extradição, seja realizada a respetiva tradução", lê-se no comunicado enviado pela PGR.
O esclarecimento surge na senda de uma notícia hoje adiantada pelo Público de que o Ministério Público poderia deixar João Rendeiro escapar à extradição e/ou condenação por atrasos na tradução dos processos de que foi condenado em Portugal.
Em causa está a necessidade de traduzir para inglês as centenas de páginas que constam dos três processos pelos quais o ex-banqueiro foi condenado em Portugal, sendo que o Ministério Público tem apenas dois tradutores disponíveis e a lei sul-africana permite detenção por apenas 40 dias.
No entanto, a PGR não só afirma que "não deixará de formalizar o referido pedido de extradição no prazo legalmente previsto", como "se tal se revelar imprescindível poderá sempre recorrer-se a contratação externa" de tradutores "para esse efeito".
O problema foi sinalizado pela directora do Departamento de Cooperação Judiciária e Relações Internacionais (DCJRI) da Procuradoria-Geral da República, Joana Gomes Ferreira, que admitiu ao jornal que a PGR tem apenas dois tradutores disponíveis para todos os processos do país.
Além disso, Gomes Ferreira sublinha que o ritmo considerado adequado para a tradução deste tipo de documentos é de 10 páginas por dia, o que dificulta o respeito do prazo dos 40 dias.
No entanto, a diretora do DCJRI adianta que há Estados que aceitam a tradução de apenas uma pequena parte das decisões. Tal modelo chama-se dispositivo, que resume a pena aplicada por cada um dos crimes, a legislação aplicada e a pena final.
O MP sul-africano tinha recebido um primeiro pedido de detenção provisória, feito pela Procuradoria Geral da República (PGR) portuguesa, no âmbito da Convenção Europeia de Extradição, da qual fazem parte Portugal e a África do Sul.
O pedido refere que "foram emitidos mandados de detenção europeus e internacionais para João Rendeiro, no âmbito de dois processos, e que, num deles, há já uma condenação para cumprir uma pena de prisão de cinco anos e oito meses”, explica o Público, adiantando que neste documento é feito “um resumo dos crimes que estão em causa”.
Contudo, na noite de segunda-feira, a procuradoria sul-africana em Durban recebeu um segundo mandado de detenção provisória de João Rendeiro, relacionado com as condenações em Portugal.
As autoridades não explicaram ainda se o segundo mandado recebido em Durban teve por base documentação recebida de Portugal ou que já estava na posse das autoridades sul-africanas. O primeiro mandado de detenção executado no sábado - assinado a 26 de novembro por uma magistrada sul-africana - não fazia referência às condenações em Portugal.
Entretanto, a porta-voz da PGR de África do Sul já confirmou que essa detenção é provisória e termina se o pedido de extradição não for recebido no prazo de 18 dias, prazo que começou a contar no sábado, quando João Rendeiro foi detido, e termina no dia 28 de dezembro.
“Este prazo pode prolongar-se até um máximo de 40 dias se o Estado que requer a extradição apresentar razões atendíveis”, diz o jornal.
O ex-banqueiro vai novamente hoje a tribunal, depois de terem sido adiadas as três últimas sessões, a última por falta de eletricidade no tribunal de Verulam. A defesa, que apresentou um pedido de libertação mediante uma caução, pediu mais tempo para analisar o processo.
O MP já disse que não vai aceitar o pedido de libertação com pagamento de caução e deve pedir a prisão provisória de João Rendeiro com base no perigo de fuga e no facto de o ex-banqueiro já ter sido condenado três vezes, uma das quais com sentença de prisão efetiva para cumprir.
O ex-presidente do Banco Privado Português (BPP) foi preso no sábado, num hotel em Durban, na província sul-africana do KwaZulu-Natal, numa operação que resultou da cooperação entre as polícias portuguesa, angolana e sul-africana.
João Rendeiro estava fugido à justiça há três meses e as autoridades portuguesas reclamam agora a sua extradição para cumprir pena em Portugal.
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