A trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional, marcada inicialmente para a próxima quarta-feira, 27 de setembro, visa homenagear o escritor, embora o momento tenha estado na dúvida nos últimos dias pela oposição de alguns familiares.

De acordo com um despacho citado pela Renascença, o juiz alega que os herdeiros que querem travar a trasladação representam uma “minoria dos descendentes vivos”. De recordar que, dos 22 bisnetos do escritor, 13 concordaram com a trasladação para o Panteão Nacional, havendo ainda três abstenções. Seis opõem-se e avançaram a semana passada com um pedido de providência cautelar no Supremo Tribunal Administrativo para impedir a trasladação. Assim, segundo a decisão agora conhecida, a maioria vence e a cerimónia vai avançar.

Contudo, o tribunal pede à Assembleia da República para avançar com uma resolução fundamentada sobre as honras de Panteão, pelo a trasladação fica sem efeito nos próximos dias e terá de ser marcada uma nova data.

A trasladação foi aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República no dia 15 de janeiro de 2021, “em reconhecimento e homenagem pela obra literária ímpar e determinante na história da literatura portuguesa”, como se pode ler no documento publicado em Diário da República semanas depois.

A iniciativa partiu de um repto lançado pela Fundação Eça de Queiroz e insere-se no espírito da lei que define e regula as honras de Panteão Nacional, destinadas a “homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.

“A questão do Panteão está no nosso dever, ou na nossa possibilidade enquanto país, representados naturalmente pela Assembleia da República, de homenagearmos Eça de Queiroz e de termos mais um momento de grande homenagem e de reconhecimento pela vida e obra. É tão simples como isto”, afirmou à Lusa o presidente da Fundação Eça de Queiroz, Afonso Reis Cabral, trineto do autor de “Os Maias”.

José Maria Eça de Queiroz nasceu na Póvoa de Varzim, em 25 de novembro de 1845 e formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra.

Diplomata, passou largas temporadas longe do país, lançando na sua obra um olhar crítico sobre a vida em Portugal e assinando textos que, mais de 100 anos depois da sua publicação continuam a ser de leitura obrigatória e a serem adaptados quer ao teatro quer ao cinema e à televisão.

Entre outros títulos, Eça de Queiroz escreveu “As Farpas”, com Ramalho Ortigão, “O Primo Basílio”, “O Crime do Padre Amaro”, “A Relíquia” e “Os Maias”.

No Panteão Nacional, em Lisboa, inaugurado em 1966, encontram-se sepultadas várias figuras da história política portuguesa, como Teófilo Braga, Sidónio Pais, Óscar Carmona e Humberto Delgado, assim como, das letras nacionais, nomes que vão de Almeida Garrett a Sophia de Mello Breyner e Aquilino Ribeiro, passando pela fadista Amália Rodrigues e pelo futebolista Eusébio da Silva Ferreira.