O arcebispo alemão Georg Gänswein, de 63 anos, secretário particular de Bento XVI e responsável por organizar as audiências do Papa Francisco com os fiéis ou chefes de Estado não é visto há várias semanas nessa função.
O jornal Tagespost — próximo do arcebispo e que publicou uma rara entrevista a 17 de janeiro — afirma que ele foi posto em licença sine die [por um prazo não superior entre 1 a 2 anos antes da reforma].
"O secretário particular do Papa Emérito continua responsável pelas audiências públicas do Papa Francisco, mas está de licença para conceder mais tempo a Bento XVI", escreveu o jornal, que explica este afastamento pela controversa publicação de um livro co-assinado pelo Papa Emérito e pelo cardeal ultra-conservador guineense Robert Sarah.
"A sua ausência de certas audiências nas últimas semanas" está ligada a uma "redistribuição comum de vários compromissos e tarefas para Casa Pontifícia, uma vez que é também o secretário pessoal do Papa Emérito", minimizou o diretor de comunicação do Vaticano, Matteo Bruni, contactado pela AFP.
O arcebispo Gänswein é responsável pelo bem-estar do Papa Emérito Bento XVI, 92 anos, decidindo sobre os seus compromissos no seu mosteiro na Cidade do Vaticano, onde moram.
A polémica
Uma verdadeira guerra interna estoirou no Vaticano, quando alguns meios de comunicação, incluindo o Corriere della Sera, publicaram uma versão de alguém que não se quis identificar, mas se disse próximo do Papa Emérito, afirmando que Bento XVI não terá escrito o livro “a quatro mãos” e que se trata de uma operação editorial mediática a que este é totalmente alheio.
A mesma fonte não identificada explicou que o Papa Emérito "apenas disponibilizou a Sarah um texto sobre o sacerdócio que estava a escrever" e que "não sabia nada sobre a capa de um livro, nem o aprovara".
Estas declarações provocaram uma reação dura do cardeal prefeito da Congregação para o Culto Divino, que afirmou no Twitter que acusá-lo de mentir eram "difamações de extrema gravidade".
"Eu comprovei a minha estreita colaboração com Bento XVI para escrever este texto a favor do celibato. Falarei amanhã, se necessário", acrescentou Sarah, que publicou as fotos de três cartas que Bento XVI lhe enviou.
As cartas confirmam que Bento XVI enviou um texto sobre o sacerdócio e que o autorizou a publicar "da maneira que pretendia", mas não especificam em nenhum momento se é um livro, com uma introdução e uma conclusão assinada por ambos.
A polémica no Vaticano surgiu quando foi anunciado um novo livro assinado por Bento XVI e Sarah - um dos principais líderes da ala conservadora que critica as posições do papa Francisco -, no qual o celibato é defendido, perante a decisão que terá que tomar o papa argentino sobre a proposta de ordenar homens casados feita no Sínodo na Amazónia.
Trechos do livro foram publicados no ‘site’ do jornal francês Le Fígaro.
O volume, publicado em francês, tem como título "Das profundezas dos nossos corações" (Des profondeurs de nos coeurs), chegará às livrarias esta semana, enquanto o Papa encerra a sua exortação apostólica após o Sínodo da Amazónia, que para muitos é um movimento para pressionar Francisco.
Assim, surgiram novamente acusações de que Ratzinger, 92 anos, que há anos se limita a breves aparições gravadas ou fotografadas por um jornalista ou amigo que o visitou, nas quais quase nunca faz declarações e se percebe que fala com grande dificuldade, pode estar a ser manipulado pela área mais conservadora da Igreja.
Os media oficiais do Vaticano limitaram-se a garantir que no livro "os autores expõem as suas intervenções no debate sobre o celibato e a possibilidade de ordenar homens casados" e que Ratzinger e Sarah se definem como dois bispos que mantêm "obediência ao Papa Francisco", de acordo com um artigo do diretor editorial Andrea Tornielli.
O responsável pela assessoria de imprensa, Matteo Bruni, disse que o Papa Francisco sempre se opôs à eliminação do celibato, mas não se pronunciou sobre se Ratzinger concordou ou não com a publicação deste volume.
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