Desenvolvido entre fevereiro de 2022 e março deste ano, o projeto Learn to Fly – Aprende a Voar teve por objetivo promover, nas crianças, competências como a flexibilidade psicológica, abertura, curiosidade e autonomia, e os resultados serão apresentados na terça-feira, numa iniciativa ‘online’.
Com os desafios propostos pelos professores, conseguiram-se melhorias nalguns itens que avaliam a parte emocional e os problemas de comportamento, sobretudo na hiperatividade, aumentando a facilidade em controlar impulsos e diminuindo a necessidade de estar sempre em movimento. Nos problemas de relacionamento com os colegas houve uma redução dos sentimentos de exclusão e aumentou o sentimento de pertença ao grupo.
Os especialistas notaram igualmente um aumento da simpatia, da sensibilidade e da interajuda entre as crianças.
Quanto à “flexibilidade psicológica”, observaram-se melhorias na consciência e na atenção das crianças ao que se passa à sua volta, assim como na tentativa das crianças em regular o comportamento, fazendo o seu melhor para se comportarem bem diariamente.
Verificou-se ainda uma maior facilidade na relação com os seus pares e no cuidado em relação ao planeta, bem como na capacidade de participação nas decisões em vários contextos da vida da criança. Melhorou igualmente o diálogo com outras gerações, nomeadamente a dos pais.
“A forma mais eficiente de se prevenirem os problemas da adolescência é apoiar os jovens a desenvolverem o seu máximo potencial”, explicou à Lusa a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, que coordenou o projeto, sublinhando a importância de incluir os jovens – neste caso, as crianças - na tomada de decisões que influenciam o curso das suas vidas.
“A ideia era ter esta intervenção o mais cedo possível”, referiu.
Com o suporte de literatura científica, uma metodologia e um processo de avaliação detalhados, foi desenvolvido um manual, que incluiu um programa de 12 sessões desenvolvidos pelos 22 docentes que participaram no projeto. Entre os vários temas trabalhados estavam as ideias que as crianças tinham para a escola, para os amigos, para casa, para ao planeta Terra e até para mudar o mundo.
A partir da história de cinco crianças com características psicológicas e físicas, famílias, histórias de vida e culturais distintas – o Lucas, a Eva, o Artur, a Renata e a Nastya – os mais novos foram desafiados por um papagaio a tornar-se socialmente mais participativos.
Entre outros itens, estudou-se a perceção que as crianças têm da tomada de decisão na sala de aula, na escola e em casa, as conversas com outras gerações (pais, avós ou bisavós), assim como os sentimentos relativamente às atividades propostas e à sua vida.
Projeto realizado em Alcanena, Beja, Lisboa, Porto, Loulé e Viseu
Foram ainda realizadas ações de formação com os docentes envolvidos, para que pudessem dar seguimento ao projeto, disseminando-o pelas escolas a nível nacional.
O Learn to Fly foi aplicado em oito instituições dos concelhos de Alcanena, Beja, Lisboa, Porto, Loulé e Viseu e os resultados obtidos fazem com que os responsáveis pretendam estendê-lo a crianças dos 3 aos 10 anos, aumentando o número de atividades do manual e/ou a sua complexidade.
Os autores do projeto, que resultou de um prémio atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, pretendem igualmente incluí-lo no programa do pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico.
Como exemplo de como o projeto ajudou a mudar algo nas escolas está uma carta escrita à direção a pedir para mudar os lanches numa das instituições, em que os pedidos das crianças foram ouvidos, e algumas propostas para alterar uma sala numa das escolas, que foram igualmente aceites, pelo que o espaço irá para obras.
O projeto está a ser traduzido e adaptado para ser aplicado no Brasil e na Argentina.
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