Os tubarões estão a abandonar os recifes de corais à medida que as águas dos oceanos estão a aquecer devido à crise climática, afirma um estudo realizado por professores da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.

“Se ficar muito quente, eles vão precisar de se mudar”, disse o professor de zoologia e líder da investigação, David Jacoby.

“Achamos que muitos estão a escolher mudarem-se para águas mais profundas, mais frias e mais distantes, o que é preocupante. Alguns dos tubarões estão a desaparecer completamente do recife por longos períodos de tempo", acrescentou.

De acordo com o The Guardian, enquanto parte essencial do ecossistema, a espécie, que já está em perigo, pode sofrer consequências graves, bem como os recifes, que podem tornar-se desequilibrados sem a presença dos animais.

“Os tubarões desempenham um papel muito importante em manter o sistema de recifes em equilíbrio, comendo peixes herbívoros e predadores menores. Eles ajudam a evitar que os corais sejam sobrepastoreados ou cobertos por algas. Então é muito preocupante que os tubarões estejam a sair durante os períodos mais vulneráveis ​​dos recifes", referiu Anna Sturrock, uma professora da Universidade de Essex.

Os tubarões cinzentos de recife passam a maior parte do dia nos seus recifes de origem, onde socializam e se protegem de tubarões maiores de águas abertas. Já a sua alimentação acontece à noite e fora do recife. Quando retornam, as suas fezes fornecem nutrientes para outros animais do recife, mantendo o equilíbrio do ecossistema.

Entre 2013 e 2020, os investigadores do estudo rastrearam mais de 120 tubarões cinzentos de recife, que viviam nos recifes de corais remotos do arquipélago de Chagos, no Oceano Índico.

Através dos 700.000 pontos de dados recolhidos, descobriram que, à medida que os recifes eram afetados, principalmente durante o fenómeno El Niño de aquecimento do oceano entre 2015 e 2016, os tubarões passavam, significativamente, menos tempo lá.

Juntamente com os dados de satélite, foi possível registar nove medições diferentes de stress ambiental nos recifes, sendo que a temperatura da superfície do mar e os padrões de vento e corrente foram os fatores mais provocadores de stress.

Os animais ficavam cerca de 16 meses sem conseguir voltar à sua residência. No entanto, quando voltavam, os tubarões passavam mais tempo numa minoria de recifes de corais, mais saudáveis e resilientes, devido à erradicação de ratos invasores e populações de pássaros.

Por sua vez, e de acordo com os estudiosos, aumentar a proteção dos recifes de corais contra danos causados também pelos humanos pode ajudar os tubarões a permanecerem nos seus recifes de origem.

“Os tubarões de recife já estão ausentes de quase 20% dos recifes de corais no mundo inteiro, em parte devido à [pesca excessiva], e esta nova descoberta tem o potencial de exacerbar estas tendências”, afirmou Jacoby.