“É importante referir que o grande museu dos Descobrimentos portugueses e da Expansão - e que ainda não está feito - está todo no fundo do mar”, sustentou Alexandre Monteiro, que participou nos trabalhos de localização do Roberto Ivens, navio da Marinha Portuguesa, atingido por uma mina alemã, durante a Grande Guerra, ao largo de Lisboa.
A cerimónia militar de homenagem aos 15 tripulantes do Roberto Ivens desaparecidos no momento do choque com a mina alemã, no dia 27 de julho de 1917, realizou-se hoje a bordo da fragata Bartolomeu Dias, na presença do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro da Defesa, Azeredo Lopes.
O navio caça-minas Roberto Ivens foi localizado em 2015, sendo que o Instituto Hidrográfico da Marinha colaborou com os trabalhos de investigação dos arqueólogos do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa.
Uma das fontes decisivas para a localização do Roberto Ivens foi a descoberta e investigação do diário de guerra do submarino alemão UC54, que lançou várias minas na foz do Tejo.
Durante a visita a uma exposição sobre o caça-minas, montada na popa da fragata Bartolomeu Dias, o arqueólogo Alexandre Monteiro alertou o chefe do Governo para o facto de haver ainda muito a fazer para “trazer à superfície” um futuro museu dos Descobrimentos.
“Nós, no Instituto de História Contemporânea e Instituto de Arqueologia e Paleociências, temos feita a carta de todos os naufrágios e podemos oferecê-la ao Ministério da Cultura”, disse Alexandre Monteiro.
O arqueólogo acrescentou que “é tempo de se passar” à identificação dos navios afundados e que devem ser explorados.
Antes, António Costa afirmou, durante a cerimónia militar, que ainda há um longo caminho a percorrer na salvaguarda do património histórico que “jaz” no fundo do mar, recordando que Portugal ratificou, em 2006, a convenção sobre património cultural subaquático da UNESCO.
“Ao Estado, cabe agora a responsabilidade de agir e encontrar os mecanismos de cooperação e as parcerias indispensáveis para satisfazer este desiderato. Desde logo, mapear os vestígios arqueológicos de que há conhecimento”, afirmou o primeiro-ministro.
A deposição de flores e os disparos de três tiros de salva em memória das vítimas, efetuados a partir da corveta João Roby, decorreram ao final da manhã no local onde o Roberto Ivens se encontra, a quatro milhas náuticas a sul do forte do Bugio, na barra do Tejo, Lisboa.
Na cerimónia estiveram alguns descendentes dos tripulantes do navio, mortos durante a Primeira Guerra Mundial.
“Nunca pensei viver até este dia, e nunca pensei que os mortos pudessem ser finalmente homenageados numa cerimónia como esta”, disse à Lusa Maria Fernanda Gargaté Cascais, neta primeiro-tenente Raul Cascais, comandante do Roberto Ivens desaparecido após a explosão da mina alemã, em julho de 1917.
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