O clube desportivo Sport Lisboa e Benfica prestou hoje homenagem ao realizador António-Pedro Vasconcelos, “um homem da cultura e de benfiquismo devotado e sem limites”.

“A morte de um dos cineastas portugueses de maior reconhecimento deixa a cultura portuguesa mais pobre”, lê-se na nota de pesar publicada pelo Benfica na página oficial.

Também a Câmara de Leiria manifestou pesar pela morte do realizador, natural do concelho, e realçou o seu trabalho na Sétima Arte.

“O Município de Leiria lamenta profundamente o falecimento de António-Pedro Vasconcelos, aos 84 anos”, lê-se numa nota de pesar da autarquia presidida por Gonçalo Lopes.

Na nota, o município referiu que o cineasta, natural de Leiria, onde nasceu em 10 de março de 1939, “destacou-se pelo seu trabalho na Sétima Arte, como realizador, produtor, crítico e professor”, fundou o Centro Português de Cinema e é “autor de vários filmes aclamados, nomeadamente, ‘O Lugar do Morto’ e ‘Os Imortais’”.

“Em 2015, o Município de Leiria atribuiu a Medalha da Cidade de Leiria a António-Pedro Saraiva de Barros e Vasconcelos, pela sua notoriedade como cineasta, exemplo como cidadão interventivo nas áreas social, cultural, política e desportiva, sempre com o intuito de contribuir para o engrandecimento de Portugal”, adiantou.

Manifestando o seu profundo pesar, a Câmara “associa-se ao luto e à dor sentida pela família e amigos mais próximos”, acrescentou a nota.

Também a Cinemateca Portuguesa recordou o realizador como o “obreiro decisivo” da geração do Cinema Novo. Na sua página oficial, a Cinemateca lembrou o percurso no cineclubismo, nos anos 1950, e na crítica de cinema, nomeadamente nas revistas Imagem e Cinéfilo.

Por último, o Presidente da República recordou o cineasta como “defensor e praticante do cinema de grande público”, assim como pela sua intervenção cívica e política, que marcou o espaço público português.

“Na sequência de ‘O Lugar do Morto’ (1984), à época o maior sucesso de bilheteira nacional, António-Pedro Vasconcelos viria a destacar-se como defensor e praticante de um cinema de grande público, projeto que nunca abandonou e que se tornaria uma polémica recorrente, pois dizia respeito tanto aos modos de financiamento como às próprias ideias de cinema e de público”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

Numa nota publicada no sítio da Presidência da República na internet, o chefe de Estado recordou que “a partir de finais dos anos 1960, António-Pedro Vasconcelos foi um dos críticos e cineastas que prolongaram a esperança num cinema novo português, desalinhado do regime e alinhado com o cinema europeu”.

“Dirigiu documentários, uma ficção, e depois da Revolução esteve com o cinema militante”, apontou.

Na sua nota, Marcelo Rebelo de Sousa recordou-o também como “homem culto, frontal, interventivo e intempestivo”, que “gostava de literatura, da clareza e acutilância da prosa de Stendhal, dos grandes mestres do cinema clássico americano, e envolveu-se em campanhas políticas e em combates cívicos, ligados por exemplo à RTP e à TAP”.

“Também professor, cronista e ensaísta, esteve ligado ao decisivo Centro Português de Cinema e à Associação Portuguesa de Realizadores. Em tudo o que fez, foi figura destacada no nosso espaço público do último meio século”, lê-se na mesma nota.

O Presidente da República manifestou à família de António-Pedro Vasconcelos o seu pesar e o seu reconhecimento, sublinhando a “antiga e grande amizade” que o unia ao cineasta.

Recorde-se que realizador português António-Pedro Vasconcelos, morreu em Lisboa, os 84 anos, revelou a família em comunicado.

“A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa”, pode ler-se no comunicado divulgado hoje.

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, também reagiu com uma nota partilhada nas redes sociais onde lembra o realizador como "uma figura que decisiva na renovação do cinema português".

Mariana Mortágua foi também questionada sobre a morte de António-Pedro Vasconcelos, começando por deixar um “lamento profundo” e um abraço à família e amigos à família.

“Partilhei com o António Pedro Vasconcelos um movimento importante contra a privatização da TAP. Tive o prazer e o privilégio de poder trabalhar o lado do António-Pedro e de muitos outros que se juntaram nesse movimento”, recordou.

A líder do BE disse guardar “com muito carinho a determinação que sempre teve não só na luta pela cultura, mas também na luta pelo país e como quis proteger os bens comuns de todos e os bens estratégicos” da economia e da sociedade.

“Essa é a mensagem que quero deixar, de um homem de luta e que até ao fim, até estes últimos anos, sempre se quis mobilizar para defender o país e é assim que o recordo”, elogiou.

Pedro Nuno Santos classificou também, numa mensagem divulgada na rede social X (antigo Twitter), António-Pedro Vasconcelos como “um dos grandes cineastas portugueses” desta era.

“António-Pedro Vasconcelos deixa uma obra que fez dele uma figura incontornável da cultura portuguesa, com um percurso notável nas áreas do cinema, do jornalismo e da docência”, escreve o líder socialista.

Pedro Nuno Santos destaca ainda que o cineasta foi também alguém com quem o PS sempre partilhou “valores fundadores do partido”, salientando a sua “participação cívica” na campanha presidencial de Mário Soares, “de quem foi amigo próximo”.

“O exercício da cidadania do qual nunca abdicou revelam-nos alguém que sempre travou os combates certos. É uma grande perda para o país. À sua família e aos muitos amigos, as mais sentidas condolências, prestando homenagem à sua obra notável como humanista e cidadão”, sublinha-se.

O PS também divulgou um comunicado em que manifesta “profundo pesar” pelo falecimento do cineasta, considerando que representa “uma grande perda” para a vida “cultural e cívica, na qual ele esteve sempre presente, interveniente e ativo, na fidelidade aos seus ideais e às suas causas, lutando por um Portugal mais livre, solidário e culto”.

“A sua obra cinematográfica, nas suas várias fases de criação, ficará como um valioso património do nosso cinema contemporâneo”, lê-se.

O partido destaca ainda que, apesar de manter a sua “independência de juízo sobre os acontecimentos e as pessoas”, António Pedro Vasconcelos “foi sempre próximo do PS, participando com entusiasmo e convicção” nos seus combates, sublinhando também o seu papel nas campanhas presidenciais de Mário Soares.

“António Pedro de Vasconcelos morreu preocupado com os perigos que hoje ameaçam as nossas democracias. A melhor maneira de prestarmos tributo ao seu legado é termos consciência do que está verdadeiramente em causa e não nos distrairmos nem distanciarmos dessa luta urgente e indeclinável pela defesa dos valores democráticos”, refere-se.

O PS apresenta assim sentidas condolências à família, enaltecendo António-Pedro Vasconcelos como um “exemplo de artista, intelectual e cidadão defensor da liberdade, da justiça social e da cultura”.

*Com Lusa