Fonte próxima da família confirmou ao SAPO24 a morte de António-Pedro Vasconcelos.

“A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa”, pode ler-se também no comunicado entretanto divulgado.

"Hoje, mais do que nunca, temos a certeza que o nosso A-PV, que tanto lutou para que todos fôssemos mais justos, mais corretos, mais conscientes, sempre tão sérios e dignos como ele, será sempre um Imortal", escreveu a família.

A notícia foi avançada por João Soares na sua página de Facebook. "Recebo com grande tristeza a noticia da morte de António-Pedro Vasconcelos. Admirava-o muito como cineasta, a obra que nos deixa é notável. Também como cidadão cujas opiniões respeitava, e muitas vezes seguia. Um homem de esquerda, desde quase sempre próximo do PS. Teve um papel muito importante na campanha presidencial do meu pai em 1986. Foi amigo e apoiante sem falhas de Mário Soares, sempre", escreveu.

António-Pedro Vasconcelos nasceu a 10 de março de 1939, em Leiria. Estudou em Coimbra, Lisboa e Santo Tirso e em 1957 entrou na Faculdade de Direito de Lisboa, que frequentou durante três anos, mas não concluiu o curso.

Através de um concurso de críticas aberto pelo Cineclube Universitário de Lisboa, começou a escrever nos seus boletins e fez parte da direção entre 1958 e 1960.

No ano seguinte, em 1961, frequentou um curso de Filmologia na Sorbonne, em Paris, com uma bolsa da Gulbenkian.

"Realizador, produtor, crítico, e professor, António-Pedro Vasconcelos estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e Filmografia na Universidade de Sorbonne, cursos que nunca terminou", pode ler-se na sua biografia no site da Academia Portuguesa de Cinema.

"Responsável por alguns dos maiores sucessos comerciais nas salas portuguesas, é um dos nomes incontornáveis no Cinema Português", é ainda referido.

Os seus primeiros filmes, “Perdido por Cem” (1973) (produzido pelo Centro Português de Cinema) e “Oxalá” (1980), foram fortemente influenciados pela Nouvelle Vague. Os seguintes, “O Lugar do Morto” (1984) e “Jaime” (1999), foram um grande êxito junto do público. Realizou séries documentais e de ficção para a televisão, como foi o caso da co-produção luso-francesa “Aqui d’El Rei” (1992). Em 2015, foi vencedor dos Prémios Sophia para Melhor Filme e Melhor Realizador com “Os Gatos Não Têm Vertigens”. Mais recentemente realizou “Amor Impossível” (2015) que lhe valeu o Sophia de Melhor Filme e “Parque Mayer” (2017), tendo-lhe sido atribuído o Sophia de Melhor Realizador.

António-Pedro Vasconcelos também assinou documentários como "Milú, a menina da rádio", dedicado à atriz, ou "Emigr/Antes... e Depois" e "Adeus, até ao meu regresso", da década de 1970, ou o inicial, dedicado ao compositor Fernando Lopes-Graça. Em 2016, realizou o documentário televisivo "A voz e os ouvidos do MFA", para a RTP.

Em 1999, com o filme "Jaime", sobre a exploração do trabalho infantil, ganhou o Prémio Especial do Júri, no Festival Internacional de Cinema de San Sebastian.

António-Pedro Vasconcelos foi presidente do antigo Secretariado Nacional para o Audiovisual, de 1991 a 1993, do Conselho de Opinião da RTP e um dos rostos do movimento contra a privatização da televisão pública, criado em 2012.

O realizador foi homenageado em 2013 com o Prémio Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores e em 2016, foi o foco do festival de cinema Figueira Film Art. Em 2018, a Cinemateca dedicou-lhe um ciclo integral, considerando-o um "obreiro decisivo de uma geração decisiva".

"Viajar pela obra de António-Pedro Vasconcelos é assim viajar por mais de meio século de cinema português e pelos debates levados a cabo no seio dele, desde um cinema muito próximo da vida e da vivência do autor a um outro que procura aproximar-se mais dos grandes modelos universais da ficção e de um cinema de género", afirmou, à época, a instituição.

António-Pedro Vasconcelos foi também um dos fundadores da V.O. Filmes, Opus Filmes e da cooperativa Centro Português de Cinema, responsável pela produção da maior parte dos filmes do Cinema Novo Português.

O realizador "foi ainda professor na Escola de Cinema do Conservatório Nacional e coordenador da licenciatura em Cinema, Televisão e Cinema Publicitário da Universidade Moderna de Lisboa".

A par do cinema, António-Pedro Vasconcelos também foi crítico de literatura e cinema, cronista e comentador televisivo, “com forte intervenção cívica”, como escreveu José Jorge Letria no livro de entrevista com o realizador, “Um cineasta condenado a ser livre” (2016).

Um dos campos de intervenção foi a Associação Peço a Palavra, que se bateu publicamente contra a privatização da TAP.