O ex-ministro da Administração Interna apresenta a candidatura na sede nacional do PS, em Lisboa, hoje, numa altura de grande instabilidade para o partido. José Leitão, mandatário da candidatura, sublinha "uma nova caminhada para recuperar a confiança dos eleitores".

José Luís Carneiro começou por justificar a decisão de apresentar a candidatura, "pela situação do PS e do país". Deixa um abraço a Pedro Nuno Santos, com quem diz ter colaborado e trabalhado. A segunda candidatura surge da ideia de que a forma como olha para o PS "corresponde ao que os seus militantes entendem".

Promete honrar "os valores e principios que fizeram destes países um dos mais desenvolvidos da Europa". E acrescenta: "contem com a minha força, determinação e coragem", que se reflete no sentido de compromisso. "Sou candidato pelo meu sentido de dever", reforça.

"Sou um homem do socialismo democrático, um progressista, com profundas convicções humanistas", refere, lembrando António Costa, com quem aprendeu "a conhecer profundamente o Estado e a saber distinguir as que deveriam ser as verdadeiras prioridades".

"O nosso partido está a viver um momento muito difícil", diz, "temos de o admitir". Contudo, pede "uma análise profunda daquilo em que falhámos e do que devíamos ter feito diferente".

O contexto internacional tem tido o mesmo efeito noutros partidos "da mesma matriz" do PS, segundo José Luís Carneiro, o que "não invalida essa reflexão".

"Análise e debate, sim, ao máximo. Ataques pessoais na praça pública, não". E acrescenta: "Temos o dever de saber ouvir e dar voz às pessoas. O PS que defendo e quero reeguer repensar-se-á das bases à liderança".

O candidato quer "voltar a fazer do PS o maior partido do país". Tem a convicção que "estes resultados não refletem o valores dos portugueses", mas para isso admite que o partido tem "de reestabelecer a confiança nas instituições". Além disso, "garantir que os bons resultados da economia chegam às vidas das pessoas" e trabalhar "no aprofundamento do Estado de Direito".

"Apelo aos socialistas para que se unam na sua diversidade, para iniciar o caminho de volta que a defesa dos nossos ideais nos pede", afirmou.

Deixou ainda um aviso dirigido à oposição: "Aqueles que serão deixados para trás por políticas neoliberais", "discriminados por políticas conservadoras", ou que não verão melhorias na sua qualidade de vida, nos salários ou serviços públicos, não perdoarão o partido se ficar a "olhar para o umbigo".

"Não nos perdoarão se ficarmos agora a olhar para nós próprios ou nos entretivermos a golpear reciprocamente a nossa credibilidade e as nossas qualidades, em vez de nos organizarmos para os defendermos a eles, que são a razão de ser e de existirmos como partido", continuou.

José Luís Carneiro reconheceu que o PS está a "viver um momento difícil" e teve um "resultado que não desejava" nas legislativas de maio, tendo perdido votos "para a direita em todos os grupos sociais".

"O que procurarei fazer e vos peço que façam é uma análise profunda daquilo em que falhámos, de quando falhámos, do que devíamos ter feito diferente", disse.

No entanto, logo de seguida, pediu que se "desengane quem confunde essa reflexão com tentações de ajustes de contas internos e com cedência a tentativas de aproveitamentos por parte" dos principais opositores do PS, uma passagem do seu discurso que mereceu vários aplausos da plateia.

"Análise e debate? Sim, ao máximo. Ataques pessoais e superficiais na praça pública? Não, nunca. Comigo, não contam com isso", assegurou.

"O PS não é o partido da crítica pela crítica", refere. "Comigo na liderança o PS não terá receio de promover consensos democráticos", exclama.

Apresenta-se como um homem que "sabe a superioridade do regime democrático sobre os horrores" do fascismo. "Todos os que tentarem desvalorizar a grande obra da democracia serão sempre os nossos primeiros e maiores adversários", defende.

Dirige-se a José Neves para esclarecer que conhecer a história do partido, enquanto elenca alguns dos cargos pelos quais passou nos últimos anos. Com uma carreira longa desenvolvida no PS e no Governo, de 30 anos, admite ter respeitado a oposição e dado resposta "às preocupações do dia-a-dia", para garantir "que o Estado não é uma abstração, é uma realidade política".

Esta é a segunda vez que José Luís Carneiro se candidata. Há cerca de um ano e meio perdeu a disputa interna para Pedro Nuno Santos, que renunciou ao cargo depois de conhecidos os resultados das últimas eleições legislativas, em maio.

Até este momento, o deputado do PS é o único candidato, depois de nomes como os ex-ministros Duarte Cordeiro, Fernando Medina ou Mariana Vieira da Silva se terem posto de fora da corrida, assim como o ex-secretário de Estado Miguel Prata Roque, que na sexta-feira também afastou essa hipótese.

*Com Lusa