Em comunicado, o FAPAS diz não compreender “qual a justificação para perturbar o Parque de Serralves com a estrutura recreativa” e questiona “qual a justificação para o pagamento através do Fundo Ambiental”, acrescentando que “a biodiversidade animal já fugiu há muito” daquele espaço devido “às obras, às luzes e às ruidosas noites do Serralves em festa, com 264 mil visitantes nos três dias de 2019”.

“Pretende Serralves justificar que este passadiço será mais uma ferramenta para a sustentabilidade ambiental e proteção da biodiversidade, o que não se percebe pois é um exemplo de falta de respeito pela natureza e pelo património. A maioria dos passadiços construídos em Portugal podem ser um interessante equipamento de recreio, mas não são um equipamento de conservação da natureza e educação ambiental, nem um bom exemplo de intervenção do território”, sustenta o FAPAS.

A associação defende que, em Serralves, “não se pode ter o melhor de dois mundos”, pois “ou Há vida no Parque ou há festas, iluminação e barulho”.

“Se julgávamos que os passadiços do Paiva tinham sido o máximo da má relação com o ambiente, ficamos agora chocados com o novo passadiço entre as árvores do Parque de Serralves, que só tem três utilidades: uma é lúdica, outra é perturbar a biodiversidade e outra contribuir para a deseducação ambiental”, denuncia o FAPAS.

A Fundação de Serralves inaugurou este mês um percurso elevado ao nível da copa das árvores com 250 metros de comprimento, cujo objetivo é "valorizar e preservar o património natural", segundo disse à Lusa, na ocasião, Rui Costa, o diretor de recursos e projetos especiais da instituição.

Contactada hoje pela Lusa, a Fundação de Serralves não quis fazer comentários sobre o assunto.

Para o FAPAS, é preciso “legislar” sobre estas estruturas, “impedindo a sua proliferação”.

De acordo com a associação, “os passadiços sobrelevados ou em estrados de madeira são muito antigos”, tendo surgido para “evitar a degradação do solo e da flora e/ou a vencer obstáculos, como pequenos lagos ou rios”.

Em Portugal, “a colocação de passadiços, especialmente nas dunas” assumiu em “alguns casos uma função recreativa”, levando a que, “em muitos casos, prejudicassem as condições ambientais dos sítios onde foram instalados”.

É, segundo a associação, o “caso dos passadiços da Ria de Aveiro, do Alvor, da Reserva Ornitológica do Mindelo, da Barrinha de Esmoriz e de muitos outros, que devassaram áreas naturais até então livres da pressão humana”.

Com a facilidade de acesso criada pelos passadiços, estes espaços “passaram a ser frequentada por multidões, muitas vezes ruidosas e frequentemente não apenas em deslocação pedonal, mas também em motociclos”, acrescenta o FAPAS.

O “culminar”, diz a associação, “foram os passadiços do rio Paiva” que “perturbam o corredor ripícola e a sua fauna e flora (que supostamente pretendiam valorizar)” e foram construídos “onde já havia caminhos”.

“Houve recursos financeiros para fazer essa faraónica obra, supostamente para permitir a contemplação do vale do Rio Paiva, mas não houve recursos para intervir na reabilitação do habitat, florestando com espécies adequadas”, alerta.