Criado pela Associação de Solidariedade e Ação Social de Ramalde, o projeto “Vamos fazer cair as quedas” decorre desde janeiro de 2018 e já ensinou 50 idosos dos bairros mais envelhecidos do Porto a combater as quedas, em casa e na rua.
O projeto, coordenado por Cátia Reis, faz também parte de um estudo em curso na Universidade Católica, que funciona como entidade parceira na parte da análise comportamental na Terceira Idade.
“Estamos numa das freguesias [Ramalde] mais envelhecidas do Porto, com mais de sete mil idosos. Logo, fazia todo o sentido que o projeto fosse criado aqui”, defendeu Cátia Reis em declarações à Lusa, justificando o investimento feito a partir de um prémio de 30 mil euros concedido pelo Banco BPI para distinguir projetos solidários.
O projeto funciona de segunda a sexta-feira, uma sessão por dia, sendo que há 100 idosos avaliados e 50 estão a iniciar as sessões.
Explicando que cada envolvido, cujas idades oscilam entre os 65 e os 95 anos, frequenta a “formação durante três meses”, a coordenadora vincou que estes “só têm alta assim que mostrem terem apreendido as capacidades. Caso contrário, continuam”.
“Uma das características dos idosos são as quedas em casa. Normalmente não têm estruturas em casa que lhes permitam não cair”, vincou Cátia Reis, assinalando as “passadeiras”, entre os “vários obstáculos” que normalmente os idosos “não percebem que são um indicador para a queda”.
Cientes disto, acrescentou, um dos trabalhos responsáveis pelo projeto “é conhecer as habitações dos idosos e saber porque caem” para se erradicar os perigos aí detetados.
Com a “falta de equilíbrio e de força muscular, tantos nos membros superiores como inferiores”, como principais problemas identificados é sobretudo na consciência para o perigo que reside o mais obstáculo à aceitação dos idosos”, descreveu à Lusa a enfermeira Catarina Ferreira.
“A força muscular perde-se sempre que há uma diminuição da atividade física e estamos a falar de uma população idosa que não está habituada a praticar exercício físico”, acrescentou a responsável pela parte prática do projeto.
“Mas, antes disso, há que trabalhar a consciencialização deles”, observou.
Dando conta da importância de uma “consciencialização para alguns perigos e riscos que têm em casa e fora dela”, Catarina Ferreira explicou que o trabalho visa “expô-los a riscos para que saibam o que têm de fazer quando estão perante eles”.
Emília Cardoso, de 70 anos, está há dois anos na associação e confessou à agência Lusa que “caía muito em casa”, facto que a fez ficar dependente de uma bengala para ajudar a deslocar-se. Mas isso, disse, já quase não acontece.
“Eu caía muito em casa e também na rua. Desde que vim para cá comecei a equilibrar-me melhor e já não dependo tanto da bengala”, relatou Emília antes de iniciar o circuito técnico que tanto a obriga a descer e a subir uma rampa, como a descer e subir degraus ou pisar outros objetos que simulam as irregularidades, por exemplo, das ruas de Ramalde.
“Até já me esqueço da bengala”, confessa a idosa, num desabafo que arrancou sorrisos aos acompanhantes, na sua maioria, do sexo feminino.
Ilda André, de 78 anos, chegou à associação num contexto difícil, depois de uma perda familiar, mas hoje olha com otimismo para a vida depois de ter aprendido a contornar as quedas.
“Este projeto não tem nada de difícil, é muito agradável. Tomar consciência dos perigos é difícil, mas tendo força de vontade, fazemos isto bem. Sinto força para isto. Vim para cá muito mal e estou muito bem aqui”, concluiu.
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