"Não foi um ato de vandalismo, foi um posicionamento político com a intenção de desafiar a pensar, levar os bracarenses a perceberem quem foi aquela personagem, muitos não sabem, e por em causa a naturalização de símbolos, como aquele que representa o início da ditadura em Portugal", explicou à Lusa a historiadora e deputada do BE à Assembleia Municipal, Alexandra Vieira.
Alexandra Vieira adiantou, "o BE vai mesmo levar à próxima Assembleia Municipal [a realizar a 30 de abril] uma proposta para que se discuta a manutenção destes símbolos na cidade, seja de Gomes da Costa, de Santos Cunha, do cónego Melo, entre outras".
A bloquista, que fez questão de realçar que o objetivo não foi "nunca vandalizar", mas sim "chamar a atenção para aquela figura", Manuel Gomes da Costa, que segundo explicou "representa a implantação do fascismo em Portugal e mantém a cidade de Braga associada a este período negro da história portuguesa", onde tem uma estátua desde 1966.
"Como é que 44 anos depois a cidade de Braga ainda tem estas esculturas simbólicas numa praça pública no centro da cidade", questionou a deputada bloquista.
"O objetivo desta ação é por os bracarenses a pensar e a discutir a razão pela qual a escultura foi hoje tapada", de modo a perceberem "quem é esta personagem e o que ela representa", conclui.
O bloco quer ainda "combater a naturalização" daqueles símbolos junto da população: "Como se naturalizou certo tipo de esculturas, as pessoas desconhecem uma parte da história, achamos que está mais do que na altura de pôr isto em cima da mesa", referiu.
Alexandra Vieira lamentou ainda a "falta da evocação" do 25 de Abril em Braga.
"Esta ação teve tanto mais impato quanto na cidade não havia nada que evocasse o 25 de abril. Guimarães estava em festa, Famalicão estava em festa, Vizela estava em festa. Em Braga não houve nada, nada", lamentou.
Segundo a biografia do Museu da Presidência da República, Manuel Gomes da Costa, no dia 28 de Maio de 1926, assumiu a liderança do golpe militar que, a partir de Braga, pôs fim à I República.
"Depois de forçar a demissão de Mendes Cabeçadas, e, assim, derrotar a corrente que pretendia reformar o regime político da I República, assume a chefia do Estado. Chega, finalmente, ao poder a fação mais radical do golpe de 28 de Maio. Todavia, será uma curta experiência. Volvido cerca de um mês sobre a sua posse, é demitido, preso e exilado", lê-se.
"Substituído por Óscar Carmona, seria evocado pelo novo regime ditatorial como o líder militar que pôs termo à I República", explica o texto.
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