“Há duas visões do mundo. Nós pensamos que a visão que se concentra sobre o unilateralismo está errada e cremos que ela será ultrapassada. Para isso precisamos de falar muito uns com os outros”, referiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em declarações hoje divulgadas pelo serviço de notícias ONU News.
O chefe da diplomacia portuguesa esteve nos últimos dias em Nova Iorque, por ocasião do debate geral da 73.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, no qual o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, discursou na quarta-feira.
Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que Portugal não muda "com modas e protagonistas de curto prazo", e rejeita a "falta de visão política" do unilateralismo que, alertou, pode "repetir os erros de há cem anos".
Para Santos Silva, o unilateralismo não é a resposta para os grandes desafios que os países enfrentam atualmente, matérias essas que vão das alterações climáticas à agenda do desenvolvimento, passando igualmente pelo comércio internacional, paz e segurança ou pelo combate ao terrorismo.
Nestas declarações ao serviço de notícias ONU News, o ministro português reconheceu que existe uma “divergência profunda” entre a Europa e os Estados Unidos, no que “diz respeito à valoração do multilateralismo”.
De acordo com o chefe da diplomacia portuguesa, essa diferença “não deve ser desvalorizada”.
À ONU News, o ministro afirmou acreditar que, “com diálogo, às vezes com palavras mais duras”, será possível superar esta divergência, até porque “a unidade de valores e de interesses entre os dois lados do Atlântico norte é muito importante para a paz de todo o mundo”.
A relação de Portugal com África também foi abordada nesta entrevista ao serviço noticioso das Nações Unidas.
Santos Silva lembrou que o continente africano é um interlocutor cada vez mais importante para Portugal e que o país tem responsabilidades específicas na relação com África.
Augusto Santos Silva salientou ainda a importância da concertação político-diplomática entre os países de língua portuguesa.
“Quando António Guterres se candidatou a secretário-geral das Nações Unidas, todos os países africanos o apoiaram porque, desde logo, os países lusófonos de África se envolveram ativamente na promoção desta candidatura. O mesmo se diga em relação ao apoio que demos a Angola, quando foi membro do Conselho de Segurança, ou o apoio ao Brasil, quando apresentou candidaturas à Organização Mundial do Comércio e à Organização da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO)”.
Ainda em declarações à ONU News, o ministro português reiterou o empenho do executivo na cooperação e desenvolvimento com os países lusófonos e explicou algumas das prioridades de Lisboa.
“Neste momento, com Angola, trabalhamos muito na formação de professores, vamos trabalhar ainda mais na revitalização do ensino técnico e profissional. Com Moçambique, cooperamos muito nas áreas que serão decisivas para a economia no futuro, como a energia. Em Cabo Verde, a cooperação cobre todos os domínios. Em São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, o apoio de Portugal em matéria de saúde pública é muito apreciado e, em Timor-Leste, também a cooperação no domínio da educação é crucial”, enumerou.
Já em relação ao Brasil, Santos Silva explicou que Portugal tem facilitado a cooperação entre aquele país e as nações africanas e deu o exemplo da revitalização do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, “um projeto triangular” que envolve Brasil, Portugal e Moçambique.
Os trabalhos da 73.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU arrancaram no passado dia 18 de setembro, mas os encontros anuais de alto nível do órgão, também conhecidos como debate geral, começaram na passada terça-feira e prolongam-se até à próxima segunda-feira.
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