“Claramente esta é uma mensagem muito clara para os decisores políticos regularem os cigarros eletrónicos e o tabaco aquecido”, adiantou à agência Lusa Sofia Ravara, coordenadora da comissão de tabagismo da SPP.
Este alerta foi manifestado no dia em que um inquérito sobre o consumo de substâncias psicoativas indicou que a prevalência do consumo de tabaco em Portugal aumentou de 48,8% para 51% entre 2017 e 2022.
Segundo os dados do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), entre as substâncias psicoativas estudadas, o tabaco é a segunda (abaixo do álcool) com a experiência de consumo mais generalizado, com cerca de 50% da população entre os 15 e os 64 anos a declarar ter consumido tabaco alguma vez ao longo da vida.
Na população total (15-64 anos), a prevalência do consumo de tabaco nos últimos 30 dias aumentou ligeiramente em 2022, atingindo 31,9%, contra os 30,6% registados em 2017, um aumento que se deve ao aumento do consumo dos homens, passando de 36,5% para 40,8%, tendo no mesmo período baixado o consumo das mulheres, de 25% para 23,4%.
“Não me surpreende nada que o consumo tenha aumentado, sobretudo, à custa dos novos produtos, porque sabemos que o consumo está relacionado com o marketing da indústria”, que tem sido “esmagador” nos cigarros eletrónicos e no tabaco aquecido, salientou Sofia Ravara.
De acordo com a docente da Universidade da Beira Interior, a tendência de diminuição nas mulheres pode ser interpretada com o facto de as “mulheres terem começado a fumar há menos tempo”, estando agora “numa fase descendente” do consumo.
Já sobre o aumento do tabagismo nos homens, Sofia Ravara admitiu que este indicador pode indiciar que se está a entrar numa “nova fase” em que o marketing dos produtos está a fazer aumentar o consumo da população masculina, que já apresentava uma tendência de redução.
Perante isso, a coordenadora da comissão de tabagismo da SPP defendeu um “pacote robusto” de medidas para travar o consumo dos novos produtos, alegando que já há “evidência que vão ser muito nocivos para a saúde”.
“É muito mais fácil com as políticas prevenir o consumo nos jovens e é mais difícil conseguir que os fumadores deixem de fumar e, para isso, são precisas políticas mais robustas para apoiar os fumadores a deixarem de fumar”, alegou.
Entre estas medidas, Sofia Ravara defendeu o envio de mensagens telefónicas a encorajar os portugueses a deixar de fumar e a disponibilizar informação sobre os recursos que existem para isso, assim como mais consultas de cessação tabágica e em grupo, a comparticipação de medicamentos e profissionais de saúde treinados para estes comportamentos aditivos.
“As políticas são muito importantes porque mudam a norma social”, salientou Sofia Ravara, para quem a extensão dos ambientes sem fumo aos espaços exteriores é também “importantíssima” para proteger a população da exposição do fumo, que causa doença e morte prematura.
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