Doze dos 14 autarcas portugueses e galegos com municípios localizados ao longo de 70 quilómetros do rio Minho realizaram hoje de manhã uma ação de protesto conjunta no meio da ponte internacional da Amizade, que liga Vila Nova de Cerveira, no distrito de Viana do Castelo, a Tomiño, na Galiza, em Espanha, encerrada desde a reposição de fronteiras entre os dois países.
Na ação, promovida pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Rio Minho, que contou com a presença de jornalistas portugueses e espanhóis, os autarcas exibiram a palavra "SOS" em letras grandes.
O vice-presidente do AECT Rio Minho, Fernando Nogueira, disse que a região "está a ser alvo de uma injustiça tremenda por parte dos Estados dos dois países".
"A nossa economia está completamente morta. Os nossos trabalhadores passam um calvário para ir trabalhar e, portanto, estamos a contribuir para destruir a nossa economia e depois vão ser sempre os mesmos a pagar os sacrifícios da retoma económica", afirmou, adiantando que o AECT do Rio Minho já encomendou estudo à Universidade de Vigo sobre o impacto económico da reposição das fronteiras.
Fernando Nogueira, que é também presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, sublinhou que a região "não está a pedir facilidades".
"Queremos que haja controlo sanitário, queremos que haja segurança. Exigimos é que nos deixem passar, no mínimo, os trabalhadores transfronteiriços", assinalou.
"Há trabalhadores em todos setores. Só Vila Nova de Cerveira tem 4.000 trabalhadores, dos quais mais de 20% são oriundos da Galiza", reforçou, corroborado pela autarca de Tomiño, Sandra González: "Não queremos que os custos de não se colocarem uns guardas na fronteiras cai sobre os trabalhadores transfronteiriços. São eles que estão a assumir os custos das deslocações por só existir um ponto de passagem em Valença".
Segundo Nogueira, "das 64 fronteiras entre Portugal e Espanha, as cinco mais movimentadas estão no rio Minho", afirmando "não fazer sentido" que apenas uma, a ponte internacional que liga Valença a Tui, garanta a ligação transfronteiriça e exigindo "senão a abertura total, pelo menos mais três pontos de passagem entre as duas regiões".
Além da ponte internacional entre Vila Nova de Cerveira e Tominõ, apontou a ligação entre Monção-Salvaterra do Minho e Melgaço-Arbo.
O autarca garantiu que os protestos vão continuar nas restantes fronteiras da região, estando a ser equacionado não participarem na assinatura anual do Auto de Reconhecimento de Fronteira que ocorre em setembro.
"Temos um ato que é simbólico, a assinatura do auto de reconhecimento de fronteira em que os dois lados se juntam, há mais um século, para a assinar o documento. Vamos dizer aos nossos governantes que não fazemos esse ato de reconhecimento enquanto não nos ouvirem, para os alertar da nossa insatisfação e pela forma como estamos a ser tratados", destacou.
Fernando Nogueira referia-se aos comunicados que aquele organismo enviou aos governos dos dois países a exigir a reabertura de fronteiras.
"A resposta que obtemos é que receberam a posição, mas isso não é resposta, na minha opinião. O que pedimos são apenas meios para fazer esse controlo. Já dissemos que as autarquias, mais uma vez, estariam disponíveis para colaborar com o Estado central, que é o que nós fazemos,. Sempre que o Estado central nos pede, nós colaboramos e o contrário nem sempre é verdade. O estado empurra para as autarquias tudo o que não gosta de fazer, mas depois ouve-nos muito pouco nas nossas aspirações", reforçou.
Do lado português participaram na ação de hoje os autarcas de Melgaço (PS), de Monção (PSD), Valença (PSD), Paredes de Coura (PS) e Vila Nova de Cerveira (movimento independente), tendo faltado apenas Caminha(PS). Do lado espanhol marcaram presença os sete autarcas de A Guarda, O Rosal, Tominõ, Tui, Salvaterra do Miño, As Neves e Arco. Não marcaram presença os autarcas de Crecente e Caniza.
O protesto começou em Tomiño, após uma reunião entre os 12 autarcas, que já no meio da ligação internacional prestaram declarações a jornalistas portugueses e espanhóis. Acabaram por deslocar-se à entrada do lado português, onde a GNR acompanhava a iniciativa, para falar com jornalistas portugueses que os aguardavam.
O controlo das fronteiras terrestres com Espanha está a ser feito desde as 23:00 do dia 16 de março em nove pontos de passagem autorizada devido à pandemia de covid-19.
Atualmente, no distrito de Viana do Castelo, a ponte nova sobre o rio Minho, que liga as cidades de Valença e Tui, é o único ponto de passagem autorizado para trabalhadores transfronteiriços e transporte de mercadorias.
Na terça-feira, o ministro da Administração Interna admitiu manter encerradas as fronteiras terrestres e aérea com Espanha, enquanto existir uma quarentena interna no país vizinho.
"Neste momento, temos a fronteira terrestre encerrada até 15 de junho. Iremos analisando essa situação. Eu admito que, se as próprias autoridades espanholas já disseram que antes de 01 de julho não haverá liberdade de circulação, provavelmente temos de manter encerrada a fronteira terrestre todo este mês de junho", afirmou Eduardo Cabrita.
Constituído em fevereiro de 2018 e com sede em Valença, no distrito de Viana do Castelo, o AECT Rio Minho abrange um total de 26 concelhos: os 10 municípios do distrito de Viana do Castelo que compõem a CIM (Comunidade Intermunicipal) do Alto Minho e 16 concelhos galegos da província de Pontevedra.
Portugal contabiliza pelo menos 1.436 mortos associados à covid-19 em 32.895 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado na terça-feira.
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