O Conselho Nacional do CDS-PP - órgão máximo entre congressos - esteve reunido hoje por videoconferência e à porta fechada durante mais de nove horas a discutir e votar os regulamentos autárquicos e as moções setoriais que foram apresentadas ao último congresso do CDS-PP, em janeiro do ano passado.

Mas um dos assuntos mais falados, segundo contaram à Lusa fontes presentes na reunião, foi a possibilidade avançada pelo jornal 'online' Observador de a direção não indicar o líder da distrital e atual vereador na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, para a coligação PSD/CDS à capital, mesmo depois de o seu nome ter sido aprovado pela concelhia, juntamente com Diogo Moura e Nuno Rocha Correia.

De acordo com conselheiros ouvidos pela Lusa, o antigo vice-presidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes considerou “preocupante notícias que dão conta de purgas de nomes do CDS em Lisboa” e recusou “saneamentos por pura ‘vendetta’ interna”, defendendo que “são impróprios de partidos democráticos” e são para si “uma linha vermelha”.

Se a direção rejeitar nomes propostos pelas concelhias ou pelas distritais, o CDS passará a ser “um pequeno clube de fanatismos”, criticou.

Segundo relatos feitos à Lusa, Adolfo Mesquita Nunes, que em janeiro disse que seria candidato à liderança caso fosse convocado um congresso eletivo antecipado, assinalou que não recolheu as assinaturas para esse efeito e mostrou-se empenhado nas autárquicas, indicando que, da sua parte, “não há oposição, há colaboração”.

João Gonçalves Pereira, que é vereador do CDS na Câmara de Lisboa há oito anos e líder da distrital, reiterou a disponibilidade de participar no combate autárquico e não aceita “que alguém possa colocar lei da rolha no CDS”.

Gonçalves Pereira considerou que, a ser verdade, o que não quer acreditar, estão em causa “purgas, saneamentos” por parte da direção e apontou que essas são “práticas próprias de partidos comunistas”.

Na quinta-feira, João Gonçalves Pereira, crítico da atual direção, anunciou que no final de março vai deixar o lugar de deputado no parlamento para se dedicar “de corpo e alma ao combate local”.

De acordo com conselheiros ouvidos pela Lusa, o antigo líder parlamentar centrista Nuno Magalhães referiu-se à situação como o “elefante na sala”, enquanto o atual presidente do grupo parlamentar, Telmo Correia, considerou que “não faz sentido” o afastamento de João Gonçalves Pereira e defendeu que as autárquicas são “o momento das concelhias”.

Também o deputado João Almeida salientou que “nunca houve quotas nacionais em eleições autárquicas”.

O líder da concelhia de Lisboa, Diogo Moura, destacou que “os protagonistas do CDS em Lisboa são reconhecidos”, pelo que espera que o processo possa avançar “sem excluir ninguém”.

Em resposta, o presidente do CDS-PP recusou "discutir lugares" antes de discutir os programas eleitorais e indicou que vai usar todos os poderes atribuídos pelo regulamento autárquico.

De acordo com as fontes ouvidas pela Lusa, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu a renovação das listas e frisou que, "no CDS, não há lugares cativos".

O líder centrista criticou Mesquita Nunes por, em declarações ao Expresso antes do Conselho Nacional, ter tentado “impor metas” para o partido nas eleições autárquicas e disse que não foi eleito "pela condescendência de ninguém".

Rodrigues dos Santos destacou também que “o brilhante” João Gonçalves Pereira não se mostrou disponível para ser cabeça de lista se o CDS apresentasse listas próprias na capital e pediu que as discussões internas não sejam levadas para a comunicação social.

Considerando que as críticas de saneamento são "ofensivas" e “discursos fantasiosos”, garantiu que “ninguém vai sanear” mas sim “integrar”.

Ao longo das intervenções, vários membros da direção foram defendendo o direito a ter a última palavra a dizer na escolha dos nomes em Lisboa, entre os quais o vice-presidente Miguel Barbosa, que advogou que a política “não pode ser uma profissão” e que “renovar não é sanear”.

De acordo com fontes ouvidas pela Lusa, o dirigente considerou que ainda não é momento de “bailar a dança dos lugares” e recusou que “notícias ou pressões, venham de quem vierem”, possam antecipar essa discussão.

O presidente da mesa do Conselho Nacional, Filipe Anacoreta Correia, que está envolvido nas conversações com o PSD em Lisboa, considerou que “a montanha pariu um rato” e pediu aos centristas que não estejam “nervosos” quanto aos lugares nas candidaturas autárquicas.