O anúncio foi feito por Maria Antónia Escoval, presidente do Conselho Diretivo do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), ao qual compete este procedimento.

De acordo com a responsável, o IPST "desenvolveu um procedimento, que envolve a seleção dos dadores (os doentes recuperados), a colheita, a análise, o processamento e a distribuição deste plasma através dos serviços de imunoterapia dos hospitais".

Com esta terapêutica, pretende-se aferir através de ensaios clínicos se é possível realizar tratamentos a doentes de covid-19 a partir do plasma de outros doentes entretanto recuperados.

No que toca ao recrutamento dos dadores, recordando que "a dádiva de sangue em Portugal é anónima, benévola e voluntária", Maria Antónia Escoval informou que está disponível no website do IPST um link onde todos os doentes recuperados podem "disponibilizar-se para fazer a sua dádiva de plasma convalescente".

A responsável disse que estarão envolvidos nesta colheita, para além dos três centros de sangue e transplantação do IPST, também mais sete serviços em hospitais portugueses, nomeadamente, três serviços de imuno-hemoterapia na região Norte, um na região Centro e três na região Sul.

Para se realizarem os ensaios clínicos, a presidente do IPST disse ter sido constituído através de despacho um grupo de trabalho que inclui não só a Direção-Geral da Saúde (DGS), o Infarmed, o Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge e o Instituto de Medicina Molecular (IMM) de Lisboa, como também "os médicos prescritores nas várias instituições hospitalares". "Este grupo de trabalho irá definir os critérios mínimos de inclusão nestes ensaios clínicos e todo o restante que envolve esta terapêutica", como "volumes a transfundir e doentes a incluir nestes ensaios", sublinhou.

Para conseguir levar a cabo esta iniciativa, Maria Antónia Escoval recordou o papel do IMM no desenvolvimento dos testes " para a quantificação de anticorpos neutralizantes", sendo esta quantificação "essencial, assim como o volume transfundido para a eficácia desta terapêutica".

A responsável lembrou ainda que esta terapêutica já começou a ser utilizada "com eficácia" na China e nos EUA, assim como em países da Europa como Espanha, Itália, Alemanha, França, Bélgica e Holanda, que "estão já a desenvolver ensaios com plasma convalescente". A medida, lembrou ainda a responsável, é recomendada tanto pela Organização Mundial de Saúde como pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.

Questionada quanto a uma possível quebra da doação de órgãos, Maria Antónia Escoval disse que "manteve-se alguma atividade na doação e na transplantação" mas confirmou que houve menos 60% doações e menos 68% transplantes em março e abril relativamente ao período homólogo do ano passado.

A responsável adiantou também que estes dados denotam uma interrupção de uma fase que estava a ser positiva, já que o primeiro trimestre de 2020 estava a significar um aumento relativamente ao mesmo período do ano passado.

Ainda assim, apesar das contingências, a presidente do IPST disse que não foram desperdiçadas oportunidades durante esta altura. "Fomos buscar órgãos para transplante a Espanha, transportámos órgãos de Lisboa para o Porto, realizaram-se transplantes em Coimbra", enumerou a responsável, agradecendo aos préstimos da GNR, dos bombeiros e da Força Aérea portuguesa nos transportes.

Maria Antónia Escoval deixou ainda um agradecimento aos dadores que possibilitaram a manutenção das "reservas estratégicas de sangue e componentes sanguíneos em níveis muito estáveis durante os meses de março e abril", deixando, porém, um apelo "a potenciais dadores que exerçam este dever de cidadania para com aqueles que são mais vulneráveis".

Secretário de Estado da Saúde defende medidas sanitárias do 1.º de maio

"Às autoridades de saúde cabe a definição de regras sanitárias". Foi assim que António Lacerda Sales reagiu a uma pergunta quanto às declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, quanto às celebrações do 1.º de Maio feitas pela CGTP na passada sexta-feira na Alameda, em Lisboa.

Marcelo tinha confessado durante a manhã, numa entrevista à Rádio Montanha, que a sua ideia das celebrações do 1.º de Maio era "mais simbólica e mais restritiva". "Não era desta dimensão e deste número", disse o chefe de Estado.

Enquadrada como uma crítica do Presidente da República à análise das autoridades de saúde, Lacerda Sales disse escusar-se a comentar estas declarações, defendendo, porém, que as celebrações foram permitidas "de acordo com aquilo que é a melhor evidência a cada momento", sendo que é às autoridades de saúde que "cabe a definição de regras sanitárias". "As realidades de hoje não são as de ontem. Cada vez que pestanejamos, a nossa realidade muda", acrescentou ainda o secretário de Estado.

Entretanto, a ideia de Marcelo foi depois reiterada esta tarde, em declarações aos jornalistas em Lisboa, à saída de uma livraria onde o presidente foi para comprar um livro.

"Eu sempre achei que devia ser celebrado o 1.º de Maio, não havia uma suspensão da democracia, isso tinha de ficar claro. (...) Confesso que tinha mais uma ideia simbólica, como no fundo foi no 25 de Abril", acrescentou.

As comemorações da CGTP do Dia do Trabalhador juntaram, na sexta-feira, cerca de mil manifestantes, de máscara e a manter a distância de segurança, na Alameda D. Afonso Henriques, num dia em que ainda vigorava o estado de emergência, que terminou no sábado.

"Neste momento, o boletim é o mais próximo da realidade que é possível ter"

Fazendo um ponto de situação da evolução da pandemia em Portugal, Lacerda Sales indicou que desde 1 de março foram realizados 450.000 testes de diagnóstico de Covid-19 em Portugal, sendo o último dia de abril aquele em se realizaram mais testes (mais de 16.200).

Durante o mês de abril foram feitos, em média, cerca de 11.500 testes por dia (46% nos laboratórios públicos, 43% nos privados e quase 11% nos laboratórios da academia e laboratório militar).

“Este esforço conjunto e o envolvimento de todos tem sido crucial para que Portugal tenha conseguido aumentar a sua capacidade de testagem para níveis que nos devem deixar a todos satisfeitos”, defendeu.

Entretanto, voltaram a ser levantadas questões quanto ao erro informático que levou à duplicação de 442 casos, facto verificado pelas autoridades de saúde no sábado.

Questionada se a subida de casos na região de Lisboa e Vale do Tejo evidenciada no boletim de hoje é uma retificação devido ao facto de não se ter revelado um aumento do boletim de dia 2 para o de dia 3, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, apenas disse que "houve uma situação atípica no reporte na notificação". "Quando detetamos essas questões, nos dias subsequentes vamos alterando os números, afinando a informação para que ela chegue o mais próximo possível da realidade", justificou.

"O boletim de hoje reflete não só melhor a realidade à data de hoje, como alguma dificuldade que houve na coleta dos dados durante o fim de semana. Neste momento, o boletim é o mais próximo da realidade que é possível ter com base nos dados que nos são reportados", respondeu a responsável.

Já Lacerda Sales prometeu para os próximos dias os números exatos de testes efetuados no sábado e no domingo, recordando que o país tem 448 mil testes e está a realizar 41860 testes por milhão de habitantes, o que denota uma "capacidade de testagem muito reforçada".

Referindo-se a outros dados relevantes, o secretário de Estado da Saúde indicou que a linha de atendimento para surdos, um serviço disponível no SNS24 desde 21 de abril, já atendeu 30 pessoas, através de videochamada. Por seu lado, a linha de aconselhamento psicológico do SNS 24 recebeu já mais de 200 chamadas, afirmou o governante.

“Começou o dia 1 do desconfinamento, mas contamos já com mais de 60 dias a conviver com o covid-19 no nosso país”, referiu Lacerda Sales, lembrando que a economia “reabre paulatinamente” a partir de hoje.

“Temos de continuar, porém, a manter a porta de transmissão do vírus completamente fechada. Está em cada um de nós”, advertiu.

Para o secretário de Estado, é preciso confiar na responsabilidade dos cidadãos, mas o “distanciamento físico e a lavagem frequente das mãos não são para abandonar”, pelo contrário, “devem ser reforçados”.

Medidas de segurança adicionais não podem ser descuradas por uso de máscara

“Há um grupo de medidas que nós vamos ter de continuar a observar, independentemente do uso de máscaras, ou de viseiras, ou de outros materiais que façam barreira entre as vias respiratórias de uma pessoa”, sublinhou Graça Freitas durante a conferência.

Essas medidas, referiu, dizem respeito às regras de higiene das mãos, à etiqueta respiratória e ao distanciamento social, que continua a ser aconselhado.

Graça Freitas sublinhou ainda que as viseiras de proteção facial não dispensam a utilização de máscara, considerando que, apesar da sua utilidade, devem sempre ser complementadas por um “método de barreira que permita tapar a boca e o nariz”.

“(A viseira) protege muito bem os olhos, protege muito bem o nariz, mas já não protege tão bem, porque é aberta em baixo, gotículas expelidas através do espirro, da tosse, ou mesmo da fala”, explicou a diretora-geral.

Desde domingo que é obrigatório o uso de máscaras comunitárias em espaços onde exista maior concentração de pessoas, caso dos transportes públicos, dos estabelecimentos comerciais e das escolas.

No entanto, a diretora-geral apelou para uma atenção particular no uso das máscaras, afirmando: “Usar máscara quando está indicado sim, mas usá-la com muita precaução para não a conspurcar demasiado, ou não a conspurcar de todo”.

Portugal contabiliza 1.063 mortos associados à covid-19 em 25.524 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

Das pessoas infetadas, 813 estão hospitalizadas, das quais 143 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.689 para 1.712.

Portugal entrou domingo em situação de calamidade, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.

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