A No Name Kitchen (NNK) acusa a polícia de fronteira da Croácia de estar a queimar roupas, telemóveis e passaportes apreendidos de requerentes de asilo, que tentam atravessar a fronteira para a União Europeia.

Segundo o The Guardian, a organização humanitária reuniu, num relatório, fotografias dos pertences queimados, juntamente com depoimentos de agressões sexuais e físicas cometidas pelas autoridades.

No final de 2023, a organização viajou até à fronteira entre a Bósnia e a Croácia e encontrou documentos de identidade, malas, telemóveis - que continham até vídeos e fotografias dos abusos cometidos contra os requerentes de asilo -, sapatos, óculos, carregadores portáteis, dinheiro e outros objetos queimados.

No documento que divulgou, a NKK detalhou a localização de oito grandes montes de pertences queimados.

Por outro lado, o grupo recolheu testemunhos sobre a alegada conduta violenta das autoridades.

Uma mulher grávida com 23 anos, oriunda de Marrocos, confessou que foi abusada, em dezembro de 2023, por polícias croatas antes dos mesmos queimaram os seus pertences.

A marroquina, que viajava com o marido, outra mulher e três menores, disse que um guarda de fronteira revistou-a de forma invasiva, inclusive na parte interna dos órgãos genitais, e ameaçou violá-la.

"Foi a pior coisa que me aconteceu", disse. "Prefiro que me batam do que me revistem desta forma", continuou.

Um grupo de quatro homens marroquinos contou também que, em novembro do ano passado, foi espancado.

De acordo com a NNK, os polícias terão ainda forçado os homens a andarem descalços sobre cinzas quentes, ameaçando-os com cassetetes. O marroquino que prestou o depoimento sofreu, inclusive, queimaduras na sola dos pés.

Apesar destes depoimentos, a Croácia nega os acontecimentos.

Um porta-voz do Ministério do Interior da Croácia disse que o órgão tinha "uma política de tolerância zero para quaisquer atividades ilegais cometidas pelo seu pessoal" e que tinha "um mecanismo independente para supervisionar a conduta policial".

“Em relação às alegações de que a polícia croata está a queimar pertences que confiscou de migrantes, gostaríamos de informar que, para evitar serem devolvidos à Croácia como requerentes de proteção internacional, os migrantes destroem os objetos que carregam consigo e descartam pertences pessoais ao tentar cruzar a fronteira ilegalmente”, afirmou.

Já sobre os depoimentos da mulher grávida e do grupo de quatro homens marroquinos, o porta-voz referiu: “É totalmente inconcebível que tais incidentes ocorram sem serem denunciados imediatamente à polícia”.

Segundo o porta-voz, os traficantes de pessoas são, muitas vezes, os responsáveis por este tipo de violência e roubos na fronteira.

Todos os dias, milhares de pessoas do sul da Ásia, do Médio Oriente e do norte de África tentam atravessar os Balcãs em direção à União Europeia. Muitas delas são paradas pela polícia croata e revistadas, enquanto algumas são roubadas e mandadas, contra a sua vontade, para a Bósnia.

Considerando que o comportamento das autoridades é uma violação do direito internacional, a NNK enviou um requerimento à ONU sobre o sucedido.