É o exemplo do cofundador e presidente executivo da Careem (serviço de aluguer de carros com motorista), que já afirmou que espera um crescimento do negócio e admite recrutar uma espécie de exército de condutoras mulheres.
“Comecei a receber mensagens de condolências [para a empresa] após a decisão histórica (…) mas eu só vejo esperança”, afirmou Abdallah Elias, em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP), numa referência ao decreto real, anunciado na terça-feira, que vai permitir, a partir de junho de 2018, que as mulheres na Arábia Saudita também conduzam.
A Arábia Saudita é o único país do mundo que proíbe atualmente as mulheres de conduzir.
Teoricamente, a medida deveria afetar negativamente o negócio da Careem, cuja clientela é maioritariamente do sexo feminino, mas a empresa já está a planear recrutar 100 mil mulheres para conquistar um novo segmento de mercado.
“Muitas pessoas não utilizam o nosso serviço porque elas querem condutoras. É um novo segmento de clientela. Criação de emprego, novos produtos e acesso a um mercado maior”, acrescentou Abdallah Elias.
Na Arábia Saudita, país que adota uma interpretação muito rígida do islamismo, a convivência entre homens e mulheres é proibida e muitas mulheres mostram relutância em ser conduzidas por homens.
Esta reforma histórica poderá não só representar o surgimento de milhões de novos automobilistas, mas também poderá ter um impacto significativo em outras áreas da economia saudita, seriamente afetada desde meados de 2014 por causa da queda das receitas do petróleo.
Na Arábia Saudita, o desemprego é muito elevado entre a população feminina, que é penalizada por ser totalmente dependente de táxis ou de serviços de transporte de passageiros considerados como caros, como a Careem ou a Uber.
A par do aumento expetável na venda de veículos, a nova medida também deverá facilitar a procura e a captação de emprego para as mulheres, segundo estimou o instituto de pesquisa Capital Economics.
Esta reforma está a ser impulsionada pelo jovem príncipe herdeiro Mohammed ben Salmane, que assumiu o compromisso de modernizar este reino fortemente conservador, onde metade da população (31 milhões de habitantes) tem menos de 25 anos.
O seu plano ambicioso intitulado “Visão 2030″, anunciado em 2016 para restruturar a economia, pretende aumentar a participação das mulheres no mundo do trabalho para 30% em 2030, contra os atuais 22%.
“Permitir que as mulheres conduzam vai retirar uma barreira significativa na sua capacidade de trabalhar, bem como vai aliviar o pesado fardo de recrutar um motorista ou de um homem da família estar sempre disponível para as transportar”, afirmou o analista da Control Risks, Graham Griffiths, citado pela AFP.
“As mulheres que procuram empregos pouco qualificados irão beneficiar em muito desta medida e os empregadores também terão um maior acesso a mulheres qualificadas e motivadas com as quais não iriam eventualmente trabalhar por causa da proibição”, reforçou o analista.
Já o ministro do Interior saudita, Abdelaziz bin Saud, apontou outra vantagem da nova medida: a melhoria da segurança rodoviária.
“A condução das mulheres vai transformar a segurança rodoviária”, referiu o ministro, num comunicado divulgado pela agência noticiosa oficial saudita SPA.
Na sua opinião, a presença das mulheres nas estradas vai tornar o tráfego automóvel mais ordenado e “vai reduzir as perdas económicas e humanas dos acidentes”.
Apesar da nova medida, as mulheres na Arábia Saudita continuam a ser alvo de várias regras, como andar vestidas totalmente cobertas, da cabeça aos pés, incluindo também o rosto.
Entre outras restrições que limitam a participação feminina na vida social e pública da Arábia Saudita, as mulheres também não podem sair do país sem a companhia do marido, de um irmão mais velho ou de um tutor.
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