“Em 2020, houve uma redução das dádivas de gâmetas a nível nacional, na ordem dos 20 a 30%. No entanto, a redução foi ainda mais significativa no banco público de gâmetas”, disse Pedro Xavier, que falava à agência Lusa a propósito do grupo de trabalho criado pelo Governo para avaliar o alargamento dos programas de acesso à PMA e definir estratégias para promover doações ao Banco Público de Gâmetas.
O especialista adiantou que as dádivas de ovócitos já eram poucas, cerca de 30, no banco público, mas em 2020 caíram para oito e no caso das doações masculinas não houve nenhuma.
“Eu acredito que em 2021, da forma como as coisas estão a começar com este pico pandémico, não se possa melhorar muito a perspetiva a nível de doações e, portanto, é importante que estratégias de motivação, de angariação de dadores, porque só assim se pode inverter esta tendência”, defendeu.
Esta redução também se observou nos centros privados, mas o decréscimo foi “muito mais acentuado” nos bancos públicos.
“Os bancos públicos de gâmetas estão inseridos em estruturas que também foram afetadas no seu funcionamento pela pandemia e, portanto, 2020 é um ano que não permite fazer a interpretação clara e objetivo do que se está a passar no que diz respeito à doação de gâmetas”, adiantou.
No entanto, ressalvou, esta situação não é de agora: "já era um problema em 2019, em 2018 e 2017 e a disparidade de dádivas dos centros privados e no público já era muito grande. Portanto, a pandemia apenas veio agravar aquilo que já era um problema instalado”.
Esta situação vai levar ao agravamento das listas de espera que, antes da pandemia, já esta na ordem dos três anos para tratamentos com a utilização óvulos doados e de 2,5 a três anos com espermatozoides.
“Num ano em que praticamente nada aconteceu é fácil intuir que a lista de espera vai aumentar provavelmente mais seis meses ou um ano nos hospitais do SNS que queiram fazer tratamentos com gâmetas doados”, disse, sublinhando que o problema “já era muito mau” e que “começa a ser agora algo impensável dizer a um casal que vai ter que esperar três anos e meio, quatro anos por um tratamento”.
Para muitos casais, “é o fim da linha” porque estes tratamentos são dispendiosos e a maior parte dos casais não tem capacidade financeira para os fazer no privado, uma situação agravada pelos limites de idade da mulher.
Para Pedro Xavier, a constituição do grupo de trabalho “é uma luz que se acende” porque dá uma “esperança de que finalmente a PMA vai ser olhada com a atenção que merece, não só pela importância que tem para os beneficiários dos tratamentos, uma vez que a infertilidade é uma doença e causa sofrimentos aos casais”, mas também pelo impacto demográfico.
"Quase 4% de todos os nascimentos em Portugal resultam de técnicas de PMA e a minha expectativa é que essa proporção vá aumentando numa altura em que se tem notado “uma redução da fertilidade e do nascimento de bebés” devido à conjuntura.
“Portanto, estas duas vertentes do problema são para nós suficientemente importante para que o Estado olhe para este problema como aparentemente está a olhar, ou seja, com a atenção de ouvir os profissionais que estão no terreno, a associação de doentes, as sociedades científicas e, portanto, isto é uma ótima notícia”, salientou.
Pedro Xavier espera agora que a iniciativa tenha “princípio, meio e fim”: “É de salutar este primeiro passo, mas este primeiro passo só terá impacto” com “a concretização no terreno daquilo que o grupo de trabalho vier a identificar como os problemas que têm estado na origem da dificuldade do acesso dos casais aos tratamentos”.
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