Em entrevista à agência Lusa a propósito dos três anos que passam, no sábado, sobre a assinatura das posições conjuntas que permitiram o PS constituir um Governo minoritário com o apoio no parlamento de todos os partidos de esquerda, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, defendeu que “valeu a pena fazer este acordo”, mas não deixa “de questionar algumas das limitações que esta solução política também encerra”.
“É a demonstração que afinal, ao contrário do que alguns diziam – nós tivemos algumas vozes de mau agoiro como as de Cavaco Silva – não há partidos à esquerda irresponsáveis. O que há é alguns pensamentos sobre o país que eram irresponsáveis porque consideravam que havia votos de primeira e votos de segunda”, destacou.
Questionado sobre a nova centralidade que o parlamento ganhou com esta solução governativa, Pedro Filipe Soares recorreu a “alguns discursos do período pré-eleitoral de 2015”.
“Nós, Bloco, dizíamos isso. Num contexto em que não havia maiorias absolutas é o parlamento que ganha uma centralidade adicional. Ora, e neste contexto, ainda foi mais verdade”, lembrou.
A chegar “ao final da legislatura”, o BE concluiu “que de facto a centralidade do parlamento é amiga da melhoria da vida das pessoas”, já que “uma maioria absoluta muitas das vezes tem servido para um poder absoluto governar o país contra as pessoas”.
“Percebemos agora como esta democracia aditivada que resultou da geometria pós-eleitoral de 2015 foi benéfica para as pessoas porque deu força a propostas que de outra forma não fariam caminho porque seriam liminarmente rejeitadas”, elogiou.
O líder parlamentar do BE recordou que, nas legislativas de 2015, “o PS foi a eleições a dizer, por exemplo, que queria congelar as pensões”.
“Isto mostra como é tão importante o voto das pessoas nas próximas eleições e como isso será definidor para o que vem a seguir”, projetou.
Uma das “conclusões importantes” sobre estes acordos para quando o atual ciclo chegar às próximas eleições legislativas de 2019 é, para Pedro Filipe Soares, perceber que, “sempre que a esquerda teve força e essa força deu capacidade para influenciar na governação, as políticas implementadas foram mais amigas das pessoas”.
“O BE vai pedir o reforço da sua capacidade interventiva. Onde é que isso nos vai levar? O que nós já demonstramos é que estamos disponíveis para ter essa responsabilidade. E mais, que nós sabemos lidar com a responsabilidade que nos é dada”, garantiu.
Muitas das propostas que “diziam que eram irresponsáveis”, prosseguiu o bloquista, “provaram ser fundamentais quer para a melhoria da economia e das contas públicas quer para a vida das pessoas”, reafirmou.
“A definição das soluções está na mão das pessoas. O BE nunca negou qualquer responsabilidade, diz sempre é que depende das relações de forças. Não seremos penacho de um qualquer Governo. Estamos disponíveis para ir para o Governo para determinar políticas”, respondeu, quando questionado sobre eventuais acordos futuros.
Sobre se o acordo, caso fosse assinado hoje, seria diferente, Pedro Filipe Soares não tem dúvidas: “Hoje conhecemo-nos todos melhor, sabemos melhor o que é que cada um pensa e como é que pensa e por isso seriamos todos diferentes. O acordo não seria igual de certeza absoluta”.
“Este período permitiu-nos também a nós, Bloco, aprender muito, a ter acesso a muita informação, ter acesso a dados que de outra maneira não teríamos tido acesso e conquistar também o reconhecimento das nossas opiniões não tanto só pelo Governo, mas também publicamente, que de outra forma não teria ocorrido”, admitiu.
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