“Os Estados Unidos (…) consideram que impor os interesses nacionais é mais importante do que a ordem internacional”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, numa conferência de imprensa em Berlim.
“A política de vistas curtas do governo americano é contrária aos interesses da União Europeia (UE)”, acrescentou o representante alemão, mencionando, entre outros aspetos, a questão das alterações climáticas e a venda de armamento ao Médio Oriente.
Quando um chefe de Estado visita um país “onde os direitos humanos são violados e não diz uma palavra, mas assina um contrato de armamento (…), quando duvida que outros homens sofrem, mas também morrem, por causas das alterações climáticas, então afirmo que o Ocidente ficou mais pequeno ou pelo menos ficou enfraquecido”, prosseguiu Sigmar Gabriel, na mesma conferência de imprensa.
O chefe da diplomacia alemã falava da visita de Trump (a primeira deslocação ao estrangeiro enquanto Presidente dos Estados Unidos) à Arábia Saudita, onde assinou acordos na ordem dos 380 mil milhões de dólares (cerca de 339 mil milhões d euros), incluindo contratos de armamento avaliados em 110 mil milhões de dólares (cerca de 98 mil milhões de euros).
“O Ocidente é uma ideia de valores universais (...) uma ordem internacional em que acreditamos que essa ordem internacional é mais do que a soma dos interesses nacionais”, frisou, evocando “o fracasso dos Estados Unidos como uma grande nação”.
“Infelizmente é um sinal de mudança no equilíbrio de forças no mundo", disse Sigmar Gabriel, concluindo que “a Europa ganha um novo papel”.
Estas declarações do chefe da diplomacia alemã surgem um dia depois da chanceler alemã, Angela Merkel, ter instado os países da UE a manterem-se unidos e a tomarem as rédeas do seu destino, uma vez que o tempo em que se podia confiar totalmente nos aliados terá acabado.
No domingo, Merkel, que falava num comício em Munique após ter participado nas reuniões da NATO, em Bruxelas, e do G7 (as sete maiores economias do mundo), em Taormina (Sicília), defendeu que a UE a 27 deve ser mais unida do que nunca pois já lá vai o tempo em que se podia confiar totalmente nos aliados.
"O tempo em que podíamos contar totalmente uns com os outros acabou em certa medida. Verifiquei isso nos últimos dias. É por isso a única coisa que posso dizer é que nós, os europeus, temos de tomar as rédeas do nosso destino", afirmou.
Merkel enfatizou, por outro lado, a necessidade de se continuar a manter relações de amizade com os Estados Unidos e com o Reino Unido e também destacou a importância de ser bom vizinho, "na medida do possível, incluindo com a Rússia, mas também com outros" países.
A chanceler alemã falava no rescaldo da cimeira do G7 (Alemanha, França, Itália, Japão, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido), realizada em Taormina, na Itália, na qual os dirigentes reconheceram a incapacidade para encontrar um terreno de entendimento com os Estados Unidos sobre o combate às alterações climáticas.
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