Milhares de pessoas no exterior da catedral aplaudiram o falecido antigo chefe de Governo italiano como sinal de respeito, quando o caixão de Berlusconi foi içado para fora do carro funerário, perante o olhar dos filhos e amigos.

Silvio Berlusconi, que morreu na segunda-feira aos 86 anos, foi uma figura polémica, magnata dos ‘media’, conservador e de direita e primeiro-ministro de Itália durante nove anos (1994-1995, 2001-2006, 2008-2011).

Foi alvo de acusações de corrupção e esteve no centro de escândalos sexuais que culminariam na sua expulsão do Senado italiano, em 2013.

Em 2022, o multimilionário regressou à ribalta política como senador e líder do partido que fundou, Força Itália, membro da coligação de direita e extrema-direita atualmente no poder, liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni.

A maioria dos italianos identifica Berlusconi como a figura mais influente da Itália nas últimas décadas.

Contudo, os italianos também permanecem muito divididos sobre se a sua influência foi positiva ou negativa.

Os opositores políticos estão agora a questionar não apenas as decisões do Governo de Meloni de manter um funeral estatal – uma honra que pode ser concedida a todos antigos primeiros-ministros – mas também por declarar um dia nacional de luto, que raramente é invocado.

“Berlusconi dividiu a Itália. Ele insultou os adversários ao longo de 30 anos, criminalizou os magistrados e não reconheceu leis. Do que estamos a falar?”, interrogou Marco Travaglio, um jornalista crítico de longa data de Berlusconi.

No entanto, milhares de italianos encheram a praça exterior da Catedral de Milão para seguir o funeral em duas telas de vídeo gigantes.

O Presidente húngaro, Viktor Orban, e o Emir do Qatar, o sheikh Tamim Bin Hamad Al Thani, estavam entre os dignitários estrangeiros que marcaram presença no funeral.

Meloni – que chegou pela primeira vez a um Governo como ministra numa coligação com Berlusconi – também participou nas cerimónias fúnebres, ao lado do líder do partido Liga, Matteo Salvini, cujo partido há muito tempo é aliado do Forza Italia, de Berlusconi.

Os políticos da oposição também estiveram presentes numa homenagem a uma figura política com quem tiveram muitas divergências.

Barbara Cacellari — membro do partido Forza Italia e antiga candidata ao Parlamento Europeu – disse que os protestos sobre o funeral de estado para Berlusconi demostram falta de respeito.

“A pessoa deve ser respeitada. Berlusconi é uma pessoa que representa a história deste país “, disse Cacellari.

Os apoiantes do legado de Berlusconi alegam o seu sucesso em unificar o centro-direita italiano após o colapso do cenário político do pós-guerra com o escândalo de corrupção do caso “mãos limpas”, dos anos 90.

A lista de danos políticos que os opositores de Berlusconi apresentam é longa, incluindo conflitos de interesse relacionados com o seu império de ‘media’, dezenas de julgamentos relacionados com negócios privados, revelações de festas de cariz sexual, como as famosas Bunga-Bunga na sua ‘villa’ perto de Milão, e associações questionáveis, incluindo a sua amizade com o líder russo Vladimir Putin.