
Há muitos anos que se ouve que o cabelo e as unhas continuam a crescer depois da morte. Nas séries ou nos filmes, os "mortos-vivos" são quase sempre caracterizados com cabelo e unhas compridas. Talvez por isto, entre outros motivos, a sociedade começou a acreditar que este fenómeno acontecia mesmo.
No entanto, o avanço da medicina forense veio comprovar que não passa de um mito, ou seja, o cabelo e as unhas não crescem depois da morte.
A médica legista e CEO da Honnus, Ana Rita Pereira, explica ao SAPO24 que a aparência do crescimento das unhas e do cabelo trata-se, na verdade, de uma ilusão ótica.
"A desidratação da pele vai fazer com que ela encolha e, ilusoriamente, parece que as unhas e o cabelo cresceram", justifica.
Esta ilusão ótica explica também a propagação do mito ao longo dos anos, uma vez que as pessoas que lidavam com cadáveres notavam esta aparência de crescimento, quando a ciência ainda não a conseguia explicar.
"A morte sempre foi um tema muito especial e sensível, que no fundo todas as culturas acabam por querer perceber melhor. É uma área muito intrigante e criam-se muitos mitos à volta destes temas. Além disso, não podemos esquecer que a área da patologia forense é uma área que tem vindo ser cada vez mais desenvolvida", nota a médica.
Durante muitos anos, houve espaço para várias questões relacionadas com a morte que não tinham resposta científica. Por esta razão, havia muita falta de conhecimento, o que levou as mais variadas culturas a criar os seus próprios mitos.
"Continuamos a ter também os media e os filmes, onde há muitas histórias à volta destes mitos, o que reforça a continuidade deles", aponta ainda.
Mas o mito que diz que as unhas e o cabelo crescem depois da morte não é o único a espalhar falsas informações. Existe um outro que indica que a rigidez cadavérica congela as expressões faciais. Ou seja, se alguém morreu com um olhar assustador, a rigidez vai congelar essa expressão.
Na realidade, a rigidez afeta os músculos, mas não mantém emoções. No entanto, a especialista Ana Rita Pereira garante que apesar deste não passar de um mito, nem todos os cadáveres são iguais.
"Existem cadáveres que estão com a face mais pacífica e tranquila, e temos outros cadáveres que, de facto, estão com um ar assustador. Eu nunca consegui ver uma emoção num cadáver, mas consegue-se ver que há cadáveres que estão mais tranquilos do que outros", remata.
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