"Quando o atual Governo estava na oposição, em 2015, disse que o acordo proposto aos emigrantes lesados do BES [Banco Espírito Santo] era péssimo. Agora já é o possível", realçou à Lusa Helena Batista, vice-presidente da AMELP.
"Não sei onde o senhor ministro foi buscar os 90% [de pessoas que aceitaram o acordo proposto]. Os números que temos são 80%. Lamentamos muito que o senhor ministro dos Negócios Estrangeiros tivesse dito que quase estão satisfeitos com o acordo alcançado com 80% e não 90% dos emigrantes lesados", acrescentou.
Helena Batista vincou que, há cerca de um ano, por altura das celebrações do Dia de Portugal (10 de junho), "o primeiro-ministro e o Presidente da República tenham feito promessas de que tinha que haver justiça", considerando que isso não se está a verificar integralmente.
Daí, estar agendada para 17 de junho uma "grande manifestação" em Paris, depois das manifestações mensais que decorreram na Praça da Ópera, na Praça do Trocadero, na Embaixada de Portugal e na sede do Novo Banco em Paris.
Na quinta-feira, Augusto Santos Silva, disse, em Paris, que o acordo proposto aos emigrantes lesados do BES "foi aquele que foi possível".
Questionado pela Lusa sobre que resposta tem para os emigrantes lesados do BES que se têm manifestado em Paris com regularidade nos últimos meses, Augusto Santos Silva defendeu que "90% das pessoas que estavam nessas circunstâncias aceitaram o acordo que foi proposto".
"O que nós dizemos é que nós procurámos e encontrámos uma solução para os lesados do BES dentro dos limites daquilo que era legal e tecnicamente possível. Felizmente, de acordo com as informações que eu possuo, mais de 90% das pessoas que estavam nessas circunstâncias aceitaram o acordo que foi proposto. O acordo que foi proposto foi aquele que foi possível tendo em conta o enquadramento legal e regulatório que existe no país", afirmou.
Ao longo das manifestações dos últimos três meses, os emigrantes lesados do BES têm alegado que, nas comemorações do 10 de junho do ano passado em Paris, o presidente da República e o primeiro-ministro lhes prometeram uma solução.
Augusto Santos Silva foi questionado enquanto participava nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas na Embaixada de Portugal em França.
Após a resolução do BES, em 04 de agosto de 2014, mais de 10.000 clientes emigrantes (sobretudo de França e Suíça) vieram reclamar um total de 728 milhões de euros, acusando o banco de lhes ter vendido produtos arriscados (ações de sociedades veículo) quando lhes tinha dito que se tratava de depósitos a prazo para não residentes.
A responsabilidade sobre estes produtos ficou, na resolução do BES, no Novo Banco - o banco de transição então criado - que propôs em 2015 aos emigrantes (com os produtos Poupança Plus, Euro Aforro e Top Renda) uma solução comercial, que teve a aceitação de cerca de 6.000 (80% do total) que detinham em conjunto 500 milhões de euros.
No entanto, houve clientes que não aceitaram a solução, por considerarem que não se adequava ao seu perfil e não era justa, incorporando obrigações do Novo Banco que têm o seu vencimento apenas daqui a 30 anos e sem cupão anual, e o Novo Banco não fez qualquer proposta a outros milhares de clientes, argumentando que não era possível devido ao tipo de instrumentos financeiros abrangidos.
Já em fevereiro, o gabinete do primeiro-ministro disse que o Novo Banco iria apresentar em breve uma nova proposta comercial a estes emigrantes para os tentar compensar pelas perdas sofridas, a que podem aderir mesmo os que rejeitaram a primeira solução apresentada em 2015, mas até ao momento ainda nada aconteceu.
Comentários