“A situação atual não é boa. O Irão, devido ao fim do acordo nuclear, em vez de estar a pelo menos um ano de ter a capacidade de produzir material físsil [capaz de sustentar uma reação em cadeia da fissão nuclear] para uma arma nuclear, está agora provavelmente a uma ou duas semanas de o conseguir fazer”, disse Blinken, que discursava no Fórum de Segurança em Aspen, no Colorado (oeste dos Estados Unidos).
No entanto, o chefe da diplomacia norte-americana frisou que o Irão “ainda não conseguiu desenvolver uma arma” nuclear.
A 26 de fevereiro deste ano, um relatório confidencial da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) alertou que o Irão aumentou significativamente as suas reservas de urânio enriquecido nos últimos meses, prosseguindo a sua escalada nuclear, apesar de negar querer adquirir a bomba atómica.
Segundo o documento, então consultado pela agência noticiosa France-Presse (AFP), as reservas ascendiam a 5.525,5 kg a 10 de fevereiro (contra 4.486,8 kg no final de outubro), mais de 27 vezes o limite autorizado pelo acordo internacional que foi firmado em 2015 com o intuito de reger as atividades nucleares do regime de Teerão em troca do levantamento das sanções internacionais.
Nesse sentido, a AIEA, responsável pela verificação da natureza pacífica do programa nuclear iraniano e que é uma agência que integra o sistema das Nações Unidas, manifestou nesse mesmo relatório "preocupações crescentes" quando às verdadeiras intenções do Irão.
"O Irão faz declarações públicas sobre as suas capacidades técnicas, o que reforça as preocupações", sublinhou sobre esta questão o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, que apelou mais uma vez a Teerão para que "coopere plenamente".
Neste contexto, o mesmo representante voltou a pedir a Teerão para que "coopere plenamente", numa altura em que as relações entre as duas partes se têm vindo a deteriorar constantemente nos últimos meses.
Embora a República Islâmica negue querer adquirir uma bomba nuclear, alguns políticos estão a fazer declarações alarmistas, explicou uma fonte diplomática, citada pelas agências internacionais.
Ao mesmo tempo, o Irão prossegue a sua escalada e dispõe agora de material suficiente para construir várias bombas atómicas.
O Irão rompeu progressivamente com os compromissos assumidos no âmbito do acordo internacional de 2015, conhecido pela sigla JCPOA, em reação à retirada unilateral dos Estados Unidos do compromisso, decidida em 2018 pelo então Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump.
O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) é um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado a 14 de julho de 2015 entre a República Islâmica do Irão, o grupo P5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e, mais tarde, Alemanha), e a União Europeia (UE).
As conversações em Viena para reavivar o JCPOA fracassaram no verão de 2022.
O Irão ultrapassou largamente o limite máximo fixado em 3,67%, equivalente ao que é utilizado nas centrais nucleares para produzir eletricidade: tem 712,2 kg (contra 567,1 kg anteriormente) de material enriquecido a 20% e 121,5 kg a 60% (contra 128,3 kg).
No caso do limiar de 60%, que se aproxima dos 90% necessários para fabricar uma arma atómica, Teerão abrandou, no entanto, a produção, após uma aceleração no final do ano.
Rafael Grossi também "lamentou profundamente" o facto de o Irão não ter voltado atrás na sua decisão de proibir vários inspetores da AIEA, nomeadamente franceses e alemães, de visitar e fiscalizar as instalações nucleares no país.
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