"No respeito pela soberania do povo brasileiro e sem prejuízo das relações que ligam os dois Estados, o Bloco lamenta o inoportuno encontro marcado para amanhã [quarta-feira] entre o primeiro-ministro António Costa e Michel Temer, um político que chega à presidência da República do Brasil sem legitimidade e a braços com a justiça", diz o BE em texto hoje divulgado.

O encontro, que integra uma deslocação do chefe do Governo português ao Brasil, "vem na sequência de declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no sentido de uma legitimação do novo governo brasileiro, das quais o Bloco também se demarca claramente", frisa o partido liderado por Catarina Martins.

"A deslocação do primeiro-ministro, anunciada em apoio aos atletas portugueses nos jogos paralímpicos, é uma iniciativa louvável mas que não aconselha nem justifica o encontro com Michel Temer", prosseguem os bloquistas, que apoiam no parlamento o Governo liderado por António Costa.

Nesse sentido, o BE "junta a sua voz à de quem, no Brasil e em todo o mundo, denuncia" o processo de 'impeachment' da antiga presidente Dilma Russeff "como um golpe contra a democracia".

"Tal como muitos dos seus ministros e dos deputados e senadores que o apoiaram, Temer está no centro de várias suspeitas, investigações e casos de corrupção. O Governo português não desconhece que um dos objetivos dos promotores da destituição da anterior presidente é precisamente o de garantir impunidade perante o combate à corrupção e, particularmente, travar o caso Lavajato, em que muitos estão implicados", frisa ainda o Bloco.

O primeiro-ministro, António Costa, prossegue na quarta-feira a sua deslocação ao Brasil, com a participação numa receção promovida pelo recém-empossado presidente brasileiro, Michel Temer, antes da cerimónia de abertura dos Jogos Paralímpicos, no Rio de Janeiro.

Costa já rejeitou, em declarações à agência Lusa, que as relações luso-brasileiras possam ser condicionadas pelos processos políticos internos de cada um dos países e frisou que tanto o Brasil como Portugal já acolheram exilados em períodos de ditadura.

O primeiro-ministro considerou natural que cada um, cidadão português ou brasileiro, faça uma avaliação política da situação interna em cada um dos dois países.

"Mas a nossa relação com o Brasil é Estado a Estado, e esta visita foi marcada para a abertura dos Jogos Paralímpicos, numa altura em que se desconhecia qual o presidente brasileiro que estaria em funções", referiu o primeiro-ministro, numa alusão ao recente processo que conduziu à destituição de Dilma Rousseff, sendo substituída na presidência brasileira por Michel Temer.

No plano diplomático, de acordo com António Costa, "o que seria absolutamente extraordinário era vir ao Brasil e não ter um encontro com o Presidente do Brasil", Michel Temer.

As palavras do chefe do executivo foram proferidas na segunda-feira à agência Lusa antes da chegada de Costa a São Paulo, cidade que marcou o início da sua visita de quatro dias ao Brasil.