“Era óbvio que a Lava Jato iria promover alguma retaliação contra mim, afinal, nos últimos anos atuei incessantemente para desmascarar os seus abusos. A invasão da minha casa e do meu escritório será por mim denunciada em todos os foros para que os responsáveis sejam punidos”, escreveu Cristiano Zanin, na sua conta na rede social Twitter.
“Na guerra jurídica travada entre duas entidades privadas, a Fecomercio/RJ [do Rio de Janeiro] e a CNC [Confederação Nacional do Comércio], temos 12.474 horas de atuação, cerca de 1.400 petições e 77 profissionais envolvidos apenas no nosso escritório, tudo lançado em sistema auditado”, acrescentou.
Alegadas fraudes atribuídas a um grupo de vários escritórios de advocacia que incluiu os defensores de Lula da Silva motivou uma grande operação da polícia realizada hoje no Brasil.
Segundo as autoridades, a investigação visa esclarecer supostas operações irregulares realizadas por diversos escritórios de advocacia com órgãos públicos do Rio de Janeiro, que teriam somado cerca de 335 milhões de reais (56,2 milhões de euros) entre 2012 e 2018.
Entre os diversos escritórios de advocacia investigados, estão o de Cristiano Zanin, que defende Lula da Silva nos dez processos que enfrenta por corrupção, e o de Frederick Wassef, que já foi representante de Bolsonaro e de um dos seus filhos, o senador Flavio Bolsonaro, também suspeito de desvio de dinheiro público.
A operação está a ser comandada por investigadores da operação Lava Jato, que nos últimos anos desvendou escândalos multimilionários de corrupção na estatal petrolífera Petrobras.
Os promotores alegam que fraudes foram cometidas junto ao Serviço Social do Comércio (Sesc), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fedecomercio) e, portanto, seriam crimes federais já que estas instituições são mantidas com uma contribuição social incidente sobre a folha salarial dos empresários do comércio.
Sesc, Senac e Fecomercio do Rio de Janeiro, segundo a investigação, teriam usado cerca de 50% dos seus orçamentos, entre 2012 e 2018, em contratos com escritórios de advocacia que ajudariam a esconder um esquema de fraude e desvio de dinheiro.
Já o Ministério Público Federal frisou, também num comunicado sobre a operação, que as investigações levaram o órgão a “oferecer uma denúncia contra 26 pessoas por 43 factos criminosos, incluindo organização criminosa, estelionato, corrupção (ativa e passiva), peculato, tráfico de influência e exploração de prestígio”.
A denúncia argumentou que pelo menos 151 milhões de reais (24 milhões de euros) foram desviados num esquema liderado por Orlando Santos Diniz, ex-presidente da secção do Sistema S (nome pelo dado um conjunto de nove instituições de interesse de categorias profissionais, estabelecidas pela Constituição e que engloba Fecomércio, Sesc e Senac), do Rio de Janeiro.
Diniz foi preso numa outra operação e tornou-se delator, ou seja, estabeleceu um acordo de colaboração com a Justiça para confessar crimes e diminuir a sua pena. As suas declarações à justiça sustentam as investigações em curso.
Sobre o facto de a operação contra si ter sido realizada hoje, o advogado de Lula da Silva insinuou, também no Twitter, que a operação parece uma retaliação a uma decisão da justiça brasileira que ordenou que a defesa de Lula da Silva recebesse informações sobre as cooperações internacionais da Lava Jato firmadas com autoridades dos Estados Unidos em casos que envolvem o ex-Presidente.
Zanin afirmou que esta decisão não foi cumprida e que o prazo venceu na última segunda-feira.
“Após quase três anos de batalha judicial, deveríamos começar a fazer o exame do material proveniente do acordo de leniência [confissão de crimes em troca da redução da punição] da Odebrecht, que foi guardado até agora com muito sigilo pela Lava Jato. Dá para imaginar por que a Lava Jato invadiu o nosso escritório e pegou o nosso material”, questionou Zanin.
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