“Defendo deixarmos as diferenças do passado e encararmos o futuro com as ferramentas que funcionem bem entre nós para potenciarmos todos os pontos de acordo”, disse Alberto Fernández a Jair Bolsonaro, segundo uma nota da Casa Rosada, sede do Governo argentino.

A reunião por videoconferência precedeu a cerimónia de celebração do Dia da Amizade Argentino-Brasileira, quando se completam 35 anos do encontro dos ex-presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney em Foz do Iguaçu.

Em 30 de novembro de 1985, os dois Presidentes reuniram-se na fronteira entre Brasil e Argentina para traçarem um plano de integração político-económica, desativando uma das hipóteses de conflito bélico que havia durante a Guerra Fria.

Essa aliança tornou-se o eixo da integração regional, materializada através do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

“É um dia importante para Argentina, Brasil e todo o continente porque, pela primeira vez, começamos a pensar a integração do continente. Celebro este encontro para dar ao Mercosul o impulso do qual precisa. É imperioso que Brasil e Argentina façam isso juntos”, indicou Alberto Fernández.

Jair Bolsonaro concordou com o facto de que “o Mercosul é o principal pilar de integração”, mas pediu que fossem gerados “mecanismos mais ágeis e menos burocráticos” dentro do bloco.

A reunião por videoconferência facilitou um primeiro encontro, depois de tantas farpas e provocações ideológicas, além de posições opostas em assuntos como Venezuela, Bolívia, e Acordo Climático de Paris.

“Temos de trabalhar juntos na questão ambiental, um assunto que nos preocupa muito. Devemos fazer um acordo de preservação”, defendeu o Presidente argentino sobre um ponto em que o mundo questiona a política ambiental do Brasil de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro exaltou “a excelente integração das Forças Armadas dos dois países”.

“Fortaleceremos a nossa integração nas indústrias da Defesa e avançaremos a luta contra o tráfico de drogas e contra o crime transnacional”, destacou o Presidente brasileiro.

Alberto Fernández acrescentou que os dois países “têm oportunidades no desenvolvimento para fornecer com gás a Argentina e o Brasil”. Jair Bolsonaro pediu para “avançar em áreas de interesse em comum, em especial o Turismo”.

Do encontro participou também o ex-presidente brasileiro, José Sarney, artífice do encontro de há 35 anos que estabeleceu uma aliança bilateral, eixo da integração regional.

“Esta data foi escolhida para recordar o começo do Mercosul. Procurávamos crescer e formar um grupo competitivo em nível internacional para ampliar a integração dos nossos países”, recordou José Sarney.

Este foi o primeiro contacto entre Fernández e Bolsonaro, depois de outubro do ano passado, quando Fernández foi eleito, mas Bolsonaro nunca o cumprimentou nem foi à posse do Presidente argentino em 10 de dezembro, deixando evidente uma inimizade política.

Essa inimizade ideológica fez com que os dois passassem mais de um ano entre farpas e ironias e provocações.

Bolsonaro considera Alberto Fernández um representante populista da esquerda latino-americana que defende, por ação ou por omissão, o regime do venezuelano Nicolás Maduro. Já Alberto Fernández pensa que Bolsonaro é “racista, misógino e violento”.

Tudo começou em junho do ano passado, quando Bolsonaro fez campanha a favor da reeleição do ex-presidente, Mauricio Macri, e alertou para o risco de Fernández transformar a Argentina numa nova Venezuela.

No mês seguinte, Alberto Fernández visitou Lula da Silva na prisão e depois, em outubro, durante o seu discurso de vitória, pediu a liberdade de Lula, maior inimigo político de Bolsonaro.