"A haver saída, ela será uma saída muito dolorosa. Uma saída dolorosa para a Europa e, fundamentalmente, uma saída muito dolorosa para o próprio Reino Unido", afirmou.
António José Seguro falava no final da sessão intitulada "A Europa, a Casa da Democracia", que teve hoje lugar no Agrupamento de Escolas Ribeiro Sanches, em Penamacor, terra de onde é natural, no distrito de Castelo Branco.
Perante uma plateia essencialmente constituída de estudantes e já quando respondia a questões que lhe tinham sido colocadas, António José Seguro partilhou uma conversa que teve no dia a seguir ao referendo, na qual assumiu que estava convencido que o Reino Unido nunca sairia da União Europeia (UE).
Atualmente, e tendo em conta "os passos" que estão a ser dados, António José Seguro considerou que essa opção está mais próxima, mas salientou que as razões que o levavam a não acreditar na saída também estão a emergir.
"De facto é muito difícil sair, quando há relações de interdependência muito grandes. E não se pode sair dizendo: 'olhe, eu saio dos meus deveres, mas quero manter todos os meus direitos'. Não, pode ser assim. O Reino Unido faz falta à União Europeia, mas faz falta de corpo inteiro e estando cá e sendo corresponsável em direitos e em deveres", acrescentou.
António José Seguro referiu ainda que, agora, a solução não é fácil, até pelas relações que estão estabelecidas com os outros países europeus, e considerou que a decisão de avançar com o referendo foi "irresponsável".
"Esse é outro drama que a Europa tem, não tem líderes a pensar na Europa. Não tem líderes a pensar nos europeus. Tem líderes a olhar para o egoísmo dos Estados", disse.
Ao longo da intervenção, António José Seguro também apontou o desnorte da UE como um dos principais problemas que o projeto europeu enfrenta, tendo mesmo comparado a situação com uma pessoa que está a meio de uma ponte e não sabe para que lado deve seguir.
"A Europa neste momento está numa situação em que não sabe para onde é que quer ir. E como não sabe para onde quer ir, anda sempre a correr atrás do prejuízo e isso tem consequências na vida das pessoas", afirmou.
Europeísta convicto, o antigo secretário-geral socialista defendeu a importância da UE como um projeto "generoso e solidário" e sublinhou a relevância do voto nas eleições europeias marcadas para 26 de maio, não só porque é "um erro" deixar que os outros decidam, mas também para não dar espaço à "ilusão dos nacionalismos, extremismos e populismos".
"Isso seria de facto um tiro no próprio projeto europeu e seria, sobretudo, um retrocesso do ponto de vista civilizacional", reiterou, lembrando que a "democracia é uma planta que deve ser regada e acarinhada" e deixando o apelo aos presentes para que cuidem dessa democracia.
Na terça-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou pretender pedir um novo adiamento do ‘Brexit’ "o mais curto possível", ao mesmo tempo que convidou o líder da oposição, o trabalhista, Jeremy Corbyn, para negociar um entendimento sobre alterações à Declaração Política para as relações futuras entre o Reino Unido e a UE, que acompanha o Acordo de Saída, que possam ser apresentadas ao Conselho Europeu de 10 de abril e permitam aprovar os documentos no parlamento.
A decisão definitiva de prorrogar o período de negociações do ‘Brexit’ cabe aos líderes dos restantes 27 Estados-membros, implicando uma extensão longa a participação do Reino Unido nas eleições europeias.
Hoje, o ministro britânico para o ‘Brexit’, Stephen Barclay, admitiu a possibilidade de o Reino Unido participar nas eleições europeias de maio se o Parlamento não aprovar um acordo de saída do Reino Unido da UE.
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