"Estamos muito preocupados com um Brexit sem acordo. Vimos na semana passada que o Ministério do Interior não está preparado para a falta de um acordo e estão confusos sobre o direito ao trabalho a partir de abril do próximo ano", disse hoje o francês à agência Lusa.

Segundo o ativista, sem um acordo, os europeus não estarão protegidos juridicamente da mesma maneira que um acordo político com UE que terá de ser aprovado pelo parlamento e inscrito na lei britânica.

"O que é que vai acontecer daqui a cinco ou 10 anos, quando houver um novo Governo que seja eleito com base numa plataforma anti-UE? Nós queremos um acordo. Ele já existe, mas queremos que esse acordo seja implementado. É isso que vamos dizer hoje a Theresa May: vá falar com Michel Barnier em Bruxelas e garanta os direitos dos europeus aqui e dos britânicos na Europa assinando este acordo", vincou.

Foi esta mensagem que foi escrita numa carta entregue durante uma ação organizada pelo grupo the3million que começou por uma cadeia humana entre a praça de Westminster, junto ao parlamento britânico, e Downing Street, a residência oficial da primeira-ministra.

Na concentração estavam alguns portugueses, como Rashida Laca, que vincou a importância de participar nestes protestos.

"É a primeira vez que venho à manifestação porque sou deficiente. Vim para provar o meu ponto de vista, que nós somos pessoas, trabalhámos aqui. Eu estou cá há 32 anos, sou funcionária pública reformada e Portugal não faz nada sobre os portugueses", disse à Lusa, queixando-se da falta de informação e pouco apoio recebido das autoridades portuguesas.

Segurando uma grande bandeira portuguesa, Francisco Silva, discordou, lamentando: "Aquilo que esta senhora diz, está frustrada, talvez com razão, mas o Governo de Portugal e a nossa embaixada têm feito muitas sessões de esclarecimento, tanto a embaixada como o consulado. Têm feito o que podem, muitas vezes os cidadãos são convidados, mas entra por um ouvido e sai por outro".

Apesar de ter pais dinamarqueses, Andreas Schoyen cresceu em Portugal e junta-se muitas vezes à comunidade portuguesa, lembrando que este é um tema transversal a diferentes nacionalidades.

"É importante porque, se a gente não mostra que está insatisfeita com a maneira como as coisas são feitas e para onde vão, acabamos por não ter voz", disse.

Embrulhado numa bandeira britânica e outra portuguesa, o britânico Alex Gould identifica-se também como europeu e opositor ao Brexit, razão pela qual fez questão de fazer um pequeno protesto durante uma visita ao Porto no dia 20 de setembro, data de uma marca a favor de um segundo referendo que mobilizou cerca de 700 mil pessoas em Londres.

"Nesse dia, os reis da Bélgica estavam de visita e deram um passeio com o Presidente de Portugal e o presidente [da Câmara Municipal] do Porto. Sempre que eles passaram, levantámos as bandeiras para ter alguma publicidade e lembrar que há pessoas em Londres e no Reino Unido que querem ficar na União Europeia", contou à Lusa.

Na parte da tarde, muitas das dezenas de participantes da ação, na qual também esteve envolvido o sindicato UNISON, dirigiram-se para o parlamento para sensibilizar deputados dos diferentes partidos para esta questão.

Em setembro, a primeira-ministra britânica, Theresa May, disse no parlamento, a propósito do impasse nas negociações para o Brexit, que respeitaria os direitos dos europeus mesmo se não fosse alcançado um acordo.

"Mesmo no caso de não haver acordo, os vossos direitos estarão protegidos. Vocês são nossos amigos, nossos vizinhos, nossos colegas. Nós queremos que vocês fiquem", afirmou.

O Governo britânico já iniciou a fase de testes de um novo sistema eletrónico de registo dos europeus que vivem no Reino Unido que vai cruzar informação existente nas bases de dados oficiais da autoridade tributária e da segurança social.

O estatuto de residente permanente ['settled status'] será atribuído àqueles com cinco anos consecutivos a viver no Reino Unido, enquanto que os que estão há menos de cinco anos no país terão um título provisório ['pre-settled status'] até completarem o tempo necessário.

O sistema só deverá ser aberto ao público em 2019, mas o pedido poderá ser feito até 30 de junho de 2021.