Ainda antes de o parlamento britânico rejeitar pela terceira vez o Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia, o principal negociador comunitário revelou a disponibilidade europeia para negociar uma união aduaneira, uma hipótese liminar e repetidamente rejeitada pela primeira-ministra britânica, Theresa May.

“Estamos abertos a estudar a possibilidade de uma união aduaneira permanente se o Reino Unido assim o propuser”, admitiu o político francês durante uma conferência do Colégio da Europa, em Varsóvia (Polónia).

Barnier insistiu que uma união aduaneira, na qual o Reino Unido e a UE mantivessem uma política comercial comum e uma tarifa aduaneira comum nas fronteiras externas, resolveria “em grande parte” o problema da fronteira na ilha da Irlanda e eliminaria um dos obstáculos à ratificação do Acordo de Saída pela Câmara dos Comuns.

O líder do Partido Trabalhista e da oposição, Jeremy Corbyn, é um grande apologista desta ideia, defendendo que o Governo britânico deve negociar uma "união aduaneira permanente e abrangente a todo o Reino Unido", que implique um alinhamento com o código alfandegário comum, uma tarifa externa comum e um acordo sobre política comercial que inclua poder de decisão de Londres sobre os futuros acordos comerciais do bloco comunitário

No entanto, a Declaração Política para o futuro das relações entre o Reino Unido e a UE, negociada entre Londres e Bruxelas, propõe apenas uma parceria económica "ambiciosa, vasta e equilibrada", que compreende uma área de comércio livre com a UE, sem tarifas, impostos, encargos ou restrições significativas, mas que, ao contrário de uma união aduaneira, não impede o Reino Unido de desenvolver uma política comercial independente à margem desta relação.

Os deputados britânicos rejeitaram hoje pela terceira vez, agora por 58 votos, o Acordo de Saída do Reino Unido do bloco comunitário abrindo as portas a um 'Brexit' desordenado em 12 de abril.

Na sequência da rejeição do Acordo de Saída pela Câmara dos Comuns, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, decidiu convocar um Conselho Europeu extraordinário para 10 de abril.

Os 27 tinham concordado na semana passada com uma extensão do Artigo 50.º até 22 de maio, desde que o Acordo de Saída fosse aprovado pela Câmara dos Comuns até hoje, estipulando uma prorrogação até 12 de abril caso o texto fosse novamente chumbado.

Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) vão assim reunir-se em Bruxelas a dois dias daquela que é nova data fixada para o ‘Brexit’.

O Acordo de Saída, de 585 páginas, estabelece os termos da saída do Reino Unido da UE para que se faça de forma ordenada e estabelece um quadro jurídico quando os Tratados e a legislação da UE deixarem de se aplicar ao Reino Unido.

O texto já tinha sido chumbado em 12 de março por 391 votos contra e 242 votos a favor, uma diferença de 149 votos, repetindo o chumbo de 15 de janeiro, quando o Acordo foi rejeitado por 432 votos contra e 202 a favor, uma margem histórica de 230 votos.