Numa carta dirigida a Boris Johnson, divulgada hoje, o secretário de Estado para as relações europeias, David Frost, que segundo a imprensa inglesa apresentou a demissão, expressa a sua preocupação de que o governo não possa cumprir a promessa de levantamento de todas as restrições devido à covid-19 e diz esperar que a situação seja revertida em breve, referindo-se às novas medidas para conter a variante Ómicron.

Frost é considerado uma figura-chave nas negociações com a União Europeia, mas decidiu afastar-se do executivo por discordar com o chamado “Plano B”, que determinou a introdução de passes sanitários para entrada em discotecas e grandes eventos, a obrigatoriedade de vacinas para profissionais de saúde e o uso de máscaras em espaços públicos fechados.

Da mesma forma, Frost expressou a sua insatisfação com os aumentos de impostos, ao contrário da posição dos conservadores britânicos, tradicionalmente a favor da redução.

Na missiva acrescentou que “o Brexit já está assegurado”, embora reconhecesse que “o atual desafio do governo conservador” é aproveitar as oportunidades que o Reino Unido tem, após a sua saída do bloco comunitário (janeiro de 2020).

“Espero que possamos ir o mais rápido possível para onde precisamos estar: para uma economia empreendedora, com baixa regulamentação e baixa tributação”, acrescentou Frost.

Em resposta Boris Johnson lamentou ter recebido a renúncia e agradeceu a sua “contribuição única” para o Brexit.

Nos últimos meses, Frost tem mantido intensas negociações com o vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Maros Sefcovic, para superar divergências sobre a implementação do chamado Protocolo para a Irlanda do Norte, projetado para evitar uma fronteira entre as duas terras da Irlanda para não prejudicar o processo de paz.

Sob este protocolo, a Irlanda do Norte permanece dentro do mercado interno da UE, mas Londres atrasou os controlos alfandegários por meses porque a fronteira comercial é fixada no Mar da Irlanda – entre a Grã-Bretanha e a ilha da Irlanda – algo que provocou o descontentamento dos comunidade protestante pró-britânica na Irlanda do Norte.

A demissão de Frost vem culminar várias semanas de escândalos, nomeadamente de alegadas festas de Natal no ano passado, quando as regras proibiam encontros sociais, e do financiamento impróprio das obras de remodelação da residência oficial do primeiro-ministro.

O descontentamento interno no partido ficou exposto quando 100 deputados votaram no Parlamento contra a introdução na Inglaterra dos passes sanitários para tentar travar a covid-19.

Na quinta-feira, os Conservadores perderam uma eleição parlamentar em North Shropshire, no oeste da Inglaterra, conquistada pelos liberais democratas, levando vários deputados ‘tories’ a ameaçar com uma moção de censura interna para derrubar Johnson.