As associações da diáspora congolesa há anos reclamam uma homenagem a Lumumba na capital belga. Ele foi, entre junho e setembro de 1960, o efémero chefe de governo do jovem Congo independente, a atual República Democrática do Congo.

O lugar escolhido fica perto da estação de metro Porte de Namur, na entrada de Matongé, o bairro congolês de Bruxelas.

"Algumas associações passaram 13 anos a reclamar este símbolo", explica à AFP Philippe Close, autarca socialista de Bruxelas, que lembrou que seu conselho municipal votou a decisão em abril "por unanimidade".

É a primeira vez que um espaço público recebe o nome de Lumumba na Bélgica, onde é comum encontrar estátuas do rei Leopoldo II ou esculturas em memória dos "heróis" belgas que colonizaram o Congo.

Lumumba, patriota considerado pró-soviético pelos americanos e rejeitado nos círculos de negócios belgas, foi assassinado a 17 de janeiro de 1961 na província de Katanga, com a suposta cumplicidade da CIA e do MI6 britânico.

Uma comissão de investigação do Parlamento belga tentou, entre 2000 e 2001, esclarecer a zona cinzenta da relação entre o Congo e sua ex-potência colonial. Em novembro de 2001, concluiu que "certos ministros e outros atores" belgas tiveram uma "responsabilidade moral" no assassinato do líder congolês. A Bélgica pediu desculpas por isso em 2002, através do então ministro de Relações Exteriores, Louis Michel.

A historiadora Natou Sakombi considera a inauguração de um parque Lumumba uma "hipocrisia".

Para esta filha de refugiados políticos que fugiram da ditadura de Mobutu nos anos 1980, seria necessário antes reconhecer oficialmente que Lumumba "incomodava claramente" aos interesses belgas na sua ex-colónia, embora não exista nenhuma prova de que a ordem de matá-lo tenha partido de Bruxelas.

'Passado problemático'

"Acho que é inútil criar uma praça Lumumba, há muitas coisas que precisam ser solucionadas antes", opina Sakombi.

"Há um forte valor simbólico, mas não é o gesto que vai resolver todas as perguntas que ainda podem ser feitas sobre a colonização", admite Philippe Close.

A inauguração acontece 58 anos depois da proclamação da independência do Congo, num momento em que os debates sobre o passado colonialista belga vão proliferando.

Um deles provocou a transformação do Museu Real da África Central de Tervuren, nos arredores de Bruxelas, que abriga 120 mil objetos e 10 milhões de espécies zoológicas e foi criado no século XIX por Leopoldo II para oferecer à população doseu país uma mostra dos "benefícios" da presença belga no Congo - que se estendeu a Ruanda e Burundi no século XX.

O espaço será reaberto em dezembro após cinco anos de obras e promete agora lançar um "olhar crítico" sobre a colonização. Alguns belgas defendem a restituição das obras africanas "saqueadas".

[Reportagem de Matthieu Demeestere/AFP]