“Estamos aqui à procura de ‘know-how’ para incrementar a potencialidade de as empresas nacionais produzirem e introduzirem conteúdo numa rede internacional”, afirmou Vicente à agência Lusa, em Pequim, onde participa no 4.º Fórum China – África de Cooperação no setor dos Média.
O ministro cabo-verdiano destacou a “abertura excecional” por parte de Pequim na transferência de conhecimento para o continente africano visando desenvolver tecnologias digitais e de computação em nuvem (‘cloud’).
“Comparado com outras estratégias, de outros espaços geopolíticos, a China é o único [país] que se posiciona dessa forma”, disse.
E acrescentou: “Neste momento, ou há transferência de conhecimento ao nível que a China está disponível para fazer ou não conseguiremos competir nas próximas décadas”.
Abraão Vicente referiu ainda a importância da produção de conteúdos africanos “numa perspetiva africana”, de forma a “divulgar uma nova imagem” de um continente que “de certa forma está sitiado na divulgação de uma imagem que seja positiva”.
“Os conteúdos africanos não passam nos canais europeus, americanos ou asiáticos”, notou. “A imagem de África é terrivelmente distorcida quando chega aos canais internacionais: só passam miséria, guerras, catástrofes, quando África é muito mais do que isso”, disse.
Abraão Vicente lembrou ainda o investimento “de dez milhões de euros” feito por Cabo Verde no desenvolvimento de uma rede de televisão digital terrestre, afirmando que nesse aspeto o país “está no primeiro mundo”, mas que o “principal desafio” agora são os conteúdos.
“Nós não queremos abrir uma rede de televisão digital terrestre só com conteúdos europeus e americanos”, apontou.
“Cabo Verde situa-se no centro do mundo em termos geográficos, queremos ocupar outra vez essa posição de ponto de transição. E queremos principalmente educar e preparar os nossos cidadãos para lerem o mundo numa perspetiva multidimensional”, acrescentou.
Na deslocação à China, Abraão Vicente foi acompanhado pela diretora-geral da Comunicação Social de Cabo Verde, Ineida Cabral, e representantes do canal público Rádio Televisão de Cabo Verde e da Cabo Verde Broadcast, empresa responsável pela gestão da rede de televisão digital terrestre do país.
Sobre as críticas de analistas internacionais de que a China mantém uma postura predatória em África, o ministro cabo-verdiano lembra que o continente está a entrar “numa fase nova”.
“Muitas das elites africanas estão a renovar-se e temos hoje a clara consciência de que não iremos ser apenas aproveitados para o benefício de outros países”, disse.
“Obviamente que a China tem interesses em África, mas nós também temos outros pressupostos para aproveitar esta parceria”.
Desde 2000, Pequim concedeu mais de 110 mil milhões de dólares (94 mil milhões de euros) em assistência financeira aos países africanos, segundo a unidade de investigação China AidData, com sede nos Estados Unidos.
O país asiático tornou-se, em 2009, o maior parceiro comercial de África.
Pelas estatísticas chinesas, em 2015, o comércio China-África somou 169 mil milhões de dólares (145 mil milhões de euros).
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