Segundo fonte da autarquia, foi possível chegar a acordo com os oito proprietários do bairro para a aquisição amigável das 32 edificações, algumas das quais em ruínas.

O acordo concretiza-se cerca de um ano depois das enxurradas que afetaram a cidade, sobretudo a baixa e a zona das Fontaínhas.

Em 07 de janeiro do ano passado, em menos de duas horas, o concelho do Porto registou 150 pedidos de ajuda. No bairro dos Moinhos cerca de 20 casas ficaram danificadas e quatro famílias tiveram de ser retiradas.

O bairro viria a ser novamente afetado em meados de outubro. O mau tempo voltou a fazer estragos e obrigou uma das 18 famílias que lá permanecia a deixar a sua casa.

Esta foi a primeira família a mudar-se para uma habitação municipal, processo que só ficou concluído em meados de dezembro. Dos 18 agregados, mudaram-se 16.

A única casa ocupada é a de Bruno Teixeira. Uma das vizinhas, com mais de 90 anos, prescindiu de habitação municipal e foi viver com o filho.

“Por minha vontade não saio”, afirmou o morador à Lusa.

Bruno vive nos Moinhos desde que nasceu, há 36 anos. O pai, que arrenda a casa desde 1984, saiu há cerca de oito anos, mas manteve-se como inquilino para que o valor da renda, agora paga pelo filho, não sofresse grandes alterações.

“Como o meu pai tem outra casa, a câmara não me atribui habitação municipal”, afirmou Bruno, apoiando-se na soleira que impediu a entrada da maioria das chuvas, mas que não resistiu à força da água em janeiro de 2023.

“É um silêncio ensurdecedor”, diz à Lusa uma das moradoras de um bairro vizinho ao dos Moinhos e que, todos os dias, passa por ali para chegar a sua casa.

Os que saíram deixaram para trás os destroços do que as enxurradas destruíram em janeiro e das chuvas fortes em outubro.

Mesas, cadeiras, toalhas, sapatos e restos de materiais de construção estão espalhados pelos carreiros do bairro, onde janelas, portas e pátios estão fechados. Alguns até a cadeado.

Bruno não pretende sair e já enviou um novo pedido à autarquia para que a sua situação seja revista, na tentativa de que o ajudem a encontrar uma nova casa para morar.

O futuro do bairro não será habitacional. Naquele local, o município pretende criar uma bacia de retenção, como previsto no Plano Diretor Municipal (PDM).

Neste momento, está a ser desenvolvido um estudo à bacia hidrográfica da ribeira do Poço das Patas, que atravessa de forma entubada o bairro, para promover a sua resiliência aos efeitos das alterações climáticas, avançou a autarquia à Lusa.