Em entrevista à GloboNews, Ludhmila Hajjar admitiu que se reuniu com Bolsonaro e outros membros do Governo no domingo, e que lhe foi proposto substituir o atual ministro da Saúde, general Eduado Pazuello, o terceiro responsável pela tutela desde que o atual executivo chegou ao poder, em janeiro de 2019.
Contudo, a cardiologista frisou que o seu perfil não se enquadrava no que o Governo procurava.
“A minha qualificação, os meus planos e os meus objetivos seguem uma linha, que eu acho que é distinta do Governo atual. Então, só me cabe respeitar e agradecer a oportunidade”, disse a médica, que defende medidas de isolamento social para travar a disseminação do vírus, ao contrário de Bolsonaro, que apelou publicamente para que a população brasileira saia à rua em prol da economia.
Apesar das divergências, Ludhmila admitiu que esperava que o Presidente estivesse disposto a mudar as suas posições em relação ao combate à pandemia ao convidá-la para a reunião.
“Talvez tenha sido ingenuidade minha, esperança como cidadã brasileira, até porque imaginei: se o Presidente me chamou para conversar, ele está interessado em mudar, até porque sou uma pessoa conhecida. Eu realmente acreditei na mudança de paradigma”, referiu.
O Presidente “manifestou que está muito preocupado com as mortes e é por isso que vem pensando em fazer algumas modificações na área da Saúde, mas exatamente o quê e quais são essas mudanças é que eu não consegui retirar da reunião”, salientou a cardiologista, acrescentando que as prioridades do Governo são a economia e os impactos sociais da covid-19.
Após o seu nome ter começado a circular na imprensa como uma potencial substituta de Pazuello no cargo, Ludhmila revelou que tem sido alvo de ataques e até de ameaças de morte.
Segundo a médica, o seu contacto telefónico foi publicado nas redes e ocorreram três tentativas de invasão ao hotel onde está hospedada em Brasília, o que a deixou “assustada”, mas que o Presidente relativizou, afirmando que “faz parte”.
Hajjar lançou ainda críticas à condução do Governo Federal no combate à pandemia, advogando que o executivo errou ao subestimar a doença e que será necessária uma “virada de entendimento”. A cardiologista disse que faltou um “discurso único” e que o país está agora a pagar o preço pelo atraso na compra das vacinas.
Após a imprensa local noticiar que Pazuello estava de saída do cargo, devido a alegados “problemas de saúde”, o Ministério da Saúde negou essa possibilidade.
“O Ministério da Saúde informa que até ao presente momento o ministro Eduardo Pazuello segue à frente da pasta, com a sua gestão empenhada nas ações de enfrentamento da pandemia no Brasil”, disse a nota emitida pela assessoria do ministro no domingo.
General do Exército, Pazuello tomou, em setembro último, posse como ministro da Saúde, após quatro meses a liderar interinamente a tutela durante a pandemia da covid-19 no país. Pazuello tornou-se assim o terceiro ministro da Saúde de Bolsonaro, após os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich saírem do cargo devido a divergências com o chefe de Estado no combate à covid-19.
O Brasil, que totaliza 11.483.370 casos e 278.229 mortes devido à covid-19 e que enfrenta agora o momento mais crítico da pandemia, tem vários hospitais em colapso e novas estirpes do vírus em circulação, o que levou governadores e prefeitos a decretar medidas restritivas de isolamento social, ao contrário do que defende Bolsonaro.
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