A informação foi avançada numa entrevista ao semanário Expresso, em que Lacerda Sales revela que ficou a conhecer o caso das gémeas luso-brasileiras numa reunião que teve com o filho do Presidente da República no dia 7 de novembro de 2019, a pedido do próprio. Volta a recusar, no entanto, qualquer intervenção na marcação da consulta das gémeas.

Questionado pelo jornal sobre como conheceu o caso, o antigo secretário de Estado revela: "A minha decisão de só agora falar tem a ver com o facto de ter pedido documentação ao Ministério da Saúde (MS) para ter uma narrativa no tempo e coerente. Tomei conhecimento deste caso no dia 7 do 11 de 2019, em reunião com Nuno Rebelo de Sousa, a seu pedido. Fez a apresentação de cumprimentos, dado que não o conhecia, e falou-me, factualmente, das duas crianças".

Nessa reunião, Nuno Rebelo de Sousa disse a Lacerda Sales que conhecia duas crianças brasileiras com atrofia muscular espinal e que seria importante estas tomarem um medicamento. O filho do presidente perguntou ainda qual seria a amplitude da sua intervenção.

"Disse-me que conhecia duas crianças luso-brasileiras com AME, com perto de um ano e que seria importante fazerem um medicamento (Zolgensma) até cerca dos dois anos. Não me deu conta que haveria um processo paralelo do ponto de vista formal, que tinha havido contactos com a Estefânia, com a Casa Civil, que esse contacto tinha ido para o gabinete do primeiro-ministro e para o MS. Também não falou que haveria intenção de uma consulta no sector privado ou de, eventualmente, passar para o sector público para poderem ser incorporadas nalgum ensaio clínico", diz o antigo responsável.

Garante ainda: "Dei-lhe informação que trataria este caso como todos os outros, sem privilégio, porque todos os processos que me chegavam formalmente constituídos sinalizavam para as diferentes institui­ções. E foram centenas".

Lacerda Sales sublinha igualmente que não recebeu qualquer informação sobre um eventual processo clínico a decorrer paralelamente e volta a rejeitar qualquer intervenção na marcação da consulta por telefone ou email.

É ainda questionado sobre a possibilidade de ter sido a sua secretária a intervir, mas diz não ser recordar de ter dado qualquer indicação sobre o assunto, apesar de não ter falado com esta sobre o tema.

Recorde-se que o caso em que o filho do presidente está envolvido remonta a 2019, quando duas crianças gémeas residentes no Brasil que, entretanto, adquiriram nacionalidade portuguesa vieram a Portugal receber o medicamento Zolgensma para a atrofia muscular espinhal, com um custo total de quatro milhões de euros, segundo o divulgado pela TVI, em novembro.

O assunto está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e é objeto de uma auditoria interna no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa, que já entregou documentação à PGR sobre o assunto e confirmou que o seu filho o contactou sobre a necessidade de tratamento das crianças, negou ter tido qualquer intervenção no processo.

Entretanto, a TVI soube ainda que Nuno Rebelo de Sousa terá tentado intervir num negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Banco de Brasília. O objetivo seria explorar possíveis apostas em dinheiro no país.

Este negócio foi anunciado em abril, mas a provedora da Santa Casa da Misericórdia cancelou o acordo em outubro. Ana Jorge disse não querer perder mais dinheiro.

Antes deste contrato ter sido recusado, o filho do presidente terá ainda proposto um encontro entre Ana Mendes Godinho e o presidente do Banco Brasileiro. A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social garante ter recusado o convite, segundo a investigação do canal.