Em dez meses de governo do socialista PSOE, os partidos separatistas catalães adquiriram um papel determinante na política nacional.

Estes apoiaram a moção de censura de Sánchez ao conservador Mariano Rajoy. Também provocaram a antecipação das eleições de domingo, ao não aprovarem o orçamento socialista para 2019, insatisfeitos com os avanços do diálogo empreendido pelo novo governo espanhol.

O seu protagonismo foi mantido na campanha, com os três partidos de direita a usarem constantemente essa incipiente negociação como arma contra o líder socialista, favorito nas sondagens.

"A Catalunha é o centro da eleição, principalmente para a direita", afirma José Ignacio Torreblanca, diretor em Madrid do centro de reflexão European Council on Foreign Relations.

"A Catalunha nunca foi determinante para as campanhas. É a primeira vez que realmente determinou por completo o debate da campanha eleitoral", destaca Antonio Barroso, analista da Teneo Intelligence.

"A maior fraqueza" do PSOE

Os debates eleitorais de segunda e terça-feira foram um fiel retrato de como se desenha a disputa.

"Você está refém daqueles que querem dividir Espanha", é "um perigo público". Assim foi acusado Sánchez pelo seu principal opositor, Pablo Casado, do Partido Popular (PP).

Em seguida, foi a vez de Albert Rivera, do Cidadãos (de centro direita), de o acusar de governar "para aqueles que querem acabar com Espanha".

E, em paralelo, numa praça de touros lotada nas redondezas de Madrid, o líder do grupo de extrema-direita Vox, Santiago Abascal, reivindicava o seu "movimento patriótico e cultural pela defesa de Espanha contra os separatistas".

O surgimento deste partido nas eleições regionais de dezembro passado na Andaluzia, com um discurso hostil contra o separatismo e de defesa da identidade espanhola, levou a campanha dos conservadores para a questão territorial.

"A maior fraqueza do PSOE é em relação à questão territorial que, depois de tudo, foi o que gerou as novas eleições", aponta Barroso.

Diante dos ataques constantes da direita, Sánchez repete que não negociará um referendo de autodeterminação na Catalunha - "não é não", reafirmou esta semana - e tenta desviar a atenção para o crescimento da extrema-direita.

"O único partido que pode vencer os três de direita (...) é o Partido Socialista", garantiu no debate.

'Política anti-inflamatória' contra o artigo 155

Contra a sua "política anti-inflamatória" na Catalunha, como a batizou o ministro das Relações Exteriores Josep Borrell, a direita aposta numa nova aplicação do artigo 155 da Constituição, utilizado em outubro de 2017 para suspender o autogoverno regional.

"A maior diferença entre a esquerda e a direita hoje na Espanha é o grau de excitação em relação à questão nacional", afirma Joan Botella, cientista político da Universidade Autónoma de Barcelona.

"A direita está super empolgada, enquanto a esquerda aposta na tranquilidade", acrescenta.

Nesta região, os eleitores parecem mais atraídos pela segunda opção.

As sondagens apontam para uma vitória dos socialistas, ou do partido separatista mais moderado, o Esquerda Republicana (ERC), o que poderia assegurar a maioria para Sánchez.

Ainda em prisão preventiva enquanto aguarda julgamento por rebelião, pela tentativa de separação em 2017, o líder do ERC, Oriol Junqueras, já insinuou o seu futuro apoio aos socialistas.

Até agora, contudo, o apoio separatista tem-se mostrado volátil e desgastante para os socialistas.

E, em caso da aplicação de longas penas de prisão contra os separatistas que aguardam julgamento no Supremo Tribunal, isso poderia dar novo fôlego à estratégia separatista defendida na Bélgica pelo ex-presidente Carles Puigdemont.

"O PSOE tem entendido que, se der as mãos aos separatistas catalães, será um presente para os conservadores e, se puder mantê-los afastados, fará isso", avalia Botella.

*Por Daniel Bosque/AFP