Catarina Martins anunciou hoje que vai deixar de ser coordenadora do BE na próxima Convenção Nacional bloquista uma vez que não se vai recandidatar. A liderança vai ser decidida na Convenção Nacional do BE, a decorrer em 27 e 28 de maio, em Lisboa.
"Este é o momento para que a coordenação do Bloco seja assumida por outra pessoa", disse a coordenadora aos jornalistas, justificando a sua saída com a necessidade que o partido tem de responder ao “fim de ciclo político”, representado pela degradação que o Governo socialista enfrenta.
“O que mudou agora é a instabilidade da maioria absoluta. Esta crise em choque com luta popular é o sinal de fim de ciclo político”, referiu. Ainda que no BE não haja "períodos muito longos para funções como a coordenação", Catarina Martins disse que a sua decisão se apoiou no facto de pensar que "é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está". "O Bloco deve juntar a sua máxima capacidade de transformação e acredito que esta renovação que desejo promover vai multiplicar a sua energia", acrescentou
"Neste tempo novo estarão os vetos fantasmas, os ódios racistas que são o retrato de uma política mesquinha e vão estar os poderes de sempre, como a oligarquia que se alimenta da especulação financeira e urbanística. E está também a certeza de que é preciso virar à esquerda", defendeu a coordenadora, que disse deixar um partido com "amplo reconhecimento popular pela sua coerência".
A sua sucessão, de resto, não a preocupa. "Se posso tomar esta decisão, é porque tenho a absoluta tranquilidade que no Bloco de Esquerda há muitas pessoas com a capacidade, a força e a preparação para assumir estas funções", afirmou.
Catarina Martins garantiu ainda que vai cumprir o seu mandato na Assembleia da República e que não vai deixar a vida partidária. "Estou aqui, eu sou daqui, o Bloco é o partido onde eu estou e vou estar em todas as lutas, a luta toda como sempre. É com muita confiança que eu olho para o futuro do meu partido", reforçou.
A líder partidária recordou ainda o seu percurso à frente do BE. "Ao longo dos 10 anos em que tive a função de coordenar o Bloco, no início com João Semedo, que quero homenagear, tivemos vitórias e derrotas: uma pesada derrota eleitoral há um ano e vitórias eleitorais como em 2015 e 2019 em que alcançámos e mantivemos os melhores resultados de sempre", começou por dizer Catarina Martins.
"Estas vitórias e derrotas são parte importante do nosso combate, mas o que tem de nos guiar é a determinação, a coerência e o nosso compromisso com o povo. Estes 10 anos foram um tempo extraordinário: pusemos a direita fora do Governo, em 2015 impusemos as condições que tornei públicas para o primeiro-ministro, o PS foi obrigado a assinar um acordo escrito sobre políticas de governação, o país respirou de alívio e iniciámos a recuperação da vida de quem trabalha. A Geringonça foi o princípio do respeito", continuou a coordenadora do BE.
A XII Convenção Nacional do BE, a última reunião magna do partido, teve lugar em 22 e 23 de maio de 2021 e foi pela primeira vez realizada no distrito do Porto, mais concretamente em Matosinhos.
No rescaldo dos maus resultados eleitorais das últimas legislativas, nas quais o BE deixou de ser a terceira força política - perdeu metade dos votos e ficou reduzido a cinco deputados -, a oposição interna chegou a pedir a antecipação da convenção nacional, mas esta vai ter o seu calendário habitual, ou seja, realiza-se com dois anos de intervalo.
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