Em declarações aos jornalistas, no final de uma audiência no Palácio de Belém, Catarina Martins não quis entrar em detalhes sobre propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2017, remetendo esse debate para o parlamento: "Em todo o caso, o BE tem todo o prazer e disponibilidade para trocar informações com o Presidente da República".
Por outro lado, a coordenadora do BE reiterou que para o seu partido é essencial reestruturar a dívida pública, mas acrescentou: "As posições estão consolidadas, é preciso é que exista a maioria política para avançar. E o PS, como sabem, não constrói essa maioria connosco".
Questionada sobre os salários dos administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Catarina Martins afirmou que "sobre o sistema financeiro as divergências entre o Bloco e o Governo são imensas", desde o primeiro momento.
"Julgo que o primeiro sinal que existiu foi o Orçamento retificativo do Banif que, como sabe, o BE votou contra, e passou com o apoio do PSD. Mais uma vez, no que diz respeito aos salários do Conselho de Administração da CGD, foi votada há dois dias uma proposta, no caso, do PCP", prosseguiu, referindo que "quem votou ao lado do PS para manter os salários dos gestores foi mais uma vez o PSD".
A coordenador do BE concluiu que "para o BE é preocupante que no que diz respeito ao sistema financeiro exista uma aliança do Bloco Central que não tem permitido uma alteração significativa na forma como o país encara o sistema financeiro".
"Mas não deixaremos, naturalmente, de trabalhar sobre essa matéria", ressalvou.
Contudo, relativizou a posição do primeiro-ministro sobre os salários da CGD: "Não é nenhuma novidade que o primeiro-ministro defendeu estes salários na Caixa, se não defendesse eles não existiam. Portanto, não vamos fazer de conta que há aqui a surpresa de uma enorme divergência. Mas também não apagamos essa divergência".
Segundo Catarina Martins, "o BE foi sempre transparente sobre as suas divergências com o Governo", que "são imensas".
Contudo, questionada sobre um hipotético cenário de rutura entre os partidos da atual maioria, afastou-o prontamente, deixando uma mensagem de estabilidade.
"Não, não me parece que esteja isso em cima da mesa. Os partidos estão todos a trabalhar. Há uma maioria parlamentar que tem feito o seu trabalho, houve uma recuperação de rendimentos, nunca é um trabalho acabado. Na política e preciso trabalhar todos os dias", declarou.
A coordenadora do BE acrescentou que "há um Governo de minoria do PS e que com esta conversação, negociação difícil, com divergências, etc., tem feito o seu caminho e continuará a fazer".
Sobre o conteúdo da proposta de Orçamento do Estado para 2017, Catarina Martins disse ter transmitido a Marcelo Rebelo de Sousa que o BE regista "a recuperação de rendimentos do trabalho que tem sido feita, que é significativa", e destacou o aumento nas pensões: "Estamos perante o maior aumento de pensões desta década".
"Em vez de estarmos a discutir cortes ou privatizações como discutimos quase sempre ao longo dos últimos anos, estamos a discutir pela segunda vez recuperação de rendimentos e proteção de serviços públicos. E isso é uma diferença qualitativa que o BE acha que existe porque há uma nova maioria parlamentar", salientou.
Porém, Catarina Martins frisou várias vezes que o debate orçamental "será feito no parlamento, é o lugar próprio para o fazer", e enquadrou o papel do chefe de Estado nesta matéria: "O senhor Presidente da República terá um momento posterior para se pronunciar, quando a Assembleia da República acabar o seu trabalho e enviar o Orçamento aqui para a Presidência".
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