"Esperamos muitas centenas de pessoas na manifestação convocada para logo à tarde", disse à agência Lusa Pedro Vieira, da organização, convicto de que é cada vez maior o número de setubalense a insurgirem-se contra as dragagens no estuário do Sado, face às consequências imprevisíveis que poderão ter para o futuro da cidade e da região.
A manifestação, que terá lugar a partir das 16:00 no jardim Luís da Fonseca, é organizada pelo Clube da Arrábida, grupos de cidadãos `Sado de Luto´ e `SOS Sado´, as associações ambientalistas Zero e Quercus e a cooperativa de pesca Sesibal, que se uniram no protesto contra as dragagens, que vão retirar cerca de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do Sado.
Os promotores da manifestação, que acusam a APSS (Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra) de querer transformar Setúbal num porto de águas profundas, advertem que as obras em causa podem levar ao desaparecimento da já reduzida comunidade de golfinhos-roazes e das pradarias marinhas, que constituem berçário de centenas de espécies de peixe.
Por outro lado, receiam que os impactos negativos das obras a médio e longo prazo acabem com a atividade e modo de vida de centenas de pescadores artesanais que vivem da riqueza natural do estuário do Sado.
O Pestana Hotel Group, que tem diversas unidades turísticas na região, também assume publicamente a preocupação com as obras de alargamento e aprofundamento do canal marítimo de acesso ao porto de Setúbal, "pela dimensão da intervenção e suas possíveis consequências ambientais sobre o estuário do Sado e a península de Troia".
"Existe ainda a possibilidade de contaminação dos locais intervencionados por dragados contaminados o que, certamente, terá fortes consequências ambientais e económicas para a atividade turística, não só em Setúbal, como em Troia e na Arrábida", lê-se no comunicado do grupo.
O grupo diz ainda que "não se percebe como um projeto com este impacto ambiental está a avançar, tendo em conta que, até à data, todos os projetos turísticos desenvolvidos na região foram submetidos a rigorosas restrições ambientais, em função da sua inserção ou proximidade com a Reserva Ecológica ou Rede Natura 2000".
Ao lado dos contestatários das dragagens estão também os presidentes da Zero e da Quercus, que manifestam grande preocupação com as dragagens, que já se iniciaram, no rio Sado.
Para o presidente da Zero, Francisco Ferreira, as dragagens para aprofundamento do canal de navegação são "um risco demasiado elevado e inaceitável (...) com custos ambientais, sociais e também económicos, que poderão ser enormes já num futuro próximo".
"Os impactes ambientais deste projeto (dragagens para aprofundar o canal de navegação) serão muito relevantes, sobretudo ao nível da biodiversidade e em habitats e espécies que são extremamente importantes, a nível regional e nacional. Os riscos que o projeto comporta para as praias da região, são preocupantes, e a falta de estudos aprofundados não nos dá nenhum tipo de garantia quanto ao seu futuro", corrobora o presidente do Núcleo Regional de Setúbal da Quercus, Paulo do Carmo.
A par da manifestação convocada para este sábado, há outras iniciativas em curso contra as dragagens no estuário do Sado, muitas delas promovidas através das redes sociais, bem como uma petição pública que pretende levar o tema a discussão no parlamento.
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