Os manifestantes, convocados por dezenas de associações, e com alguns provenientes do bairro popular de Ettadhamen, na região da capital Tunes, foram impedidos de se aproximar do edifício e relegados para uma rua adjacente pelo reforçado dispositivo policial.

Diversos deputados protestaram contra a forte presença policial e apelaram ao diálogo, num país também confrontado com a pandemia de covid-19 e as suas consequências sociais.

“Liberdade, dignidade para os bairros populares”, “Abaixo o regime policial”, ecoaram os manifestantes, que também emitiram críticas ao Governo da Tunísia e ao Ennahdha, o principal partido no parlamento e de inspiração islamita.

Os manifestantes protestavam em particular contra a estratégia de repressão adotada face ao movimento de contestação social que deflagrou em meados de janeiro de regiões marginalizadas do país, um dia após o 10.º aniversário da revolução que em 14 de janeiro de 2011 derrubou o regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali, após 23 anos de poder.

Durante noites consecutivas, grupos de jovens lançaram pedras contra a polícia, enviada para fazer respeitar um recolher obrigatório imposto por motivos sanitários. A polícia disparou gás lacrimogéneo e deteve mais de 1.000 jovens, incluindo numerosos menores, de acordo com ativistas dos direitos humanos, que lamentaram os abusos.

Também decorreram manifestações para exigir a libertação dos detidos e reivindicar uma melhor política social, enquanto as restrições sanitárias têm afetado os mais precários e implicado a perda de dezenas de milhares de empregos. Atualmente, o desemprego atinge um em cada três jovens tunisinos.

A sessão parlamentar surge um dia após confrontos entre manifestantes e a polícia em Sbeitla, uma região marginalizada no centro do país, após a morte de um jovem ferido na semana passada por uma granada de gás lacrimogéneo durante um protesto.

Hoje, registaram-se novos confrontos à margem do funeral do jovem, e com diversos deputados a exibirem a sua foto no parlamento.

Os eleitos devem decidir ainda hoje sobre a remodelação ministerial anunciada em 16 de janeiro pelo chefe do Governo, Hichem Mechichi, que substituiu 11 ministros, incluindo os do Interior, da Justiça e da Saúde.

Perante os deputados, Mechichi declarou que o objetivo consiste em garantir uma equipa “mais eficaz” para concretizar as reformas no país, em plena crise sanitária, económica, política e social.

A Tunísia (11,7 milhões de habitantes) regista diariamente mais de 2.000 novos casos confirmados e mais de 50 mortos por covid-19, e os médicos têm alertado sobre as crescentes dificuldades em garantir internamento nas unidades hospitalares.

Num sinal sobre as crescentes clivagens políticas, o Presidente Kais Saied criticou na segunda-feira e de forma veemente a remodelação do Governo, ao lamentar não ter sido consultado.

Em particular, lamentou a ausência de mulheres entre os ministros propostos e acusou um dos ministros apontados de estar “ligado a um caso de corrupção” e três outros de serem suspeitos de “conflito de interesses”, sem precisar os nomes.

Esta posição faz prever dificuldades acrescidas sobre a composição do Governo, uma tarefa particularmente complexa após as legislativas de 2019 e que implicaram um parlamento dividido num grande número de partidos que têm forjado frágeis alianças.

Mechichi, designado em julho pelo Presidente Saied, formou uma equipa que inclui numerosos funcionários ou universitários, alguns próximos do chefe de Estado. No entanto, afastou-se gradualmente de Saied, até recompor o seu gabinete com o apoio do Ennahdha.

“Os atores políticos produzem as mesmas estratégias que até ao momento apenas resultaram em fracasso”, considerou a propósito Yosra Frawes, presidente da Associação das mulheres tunisinas democratas, citada pela AFP.

“Alterem o seu modelo de governação, ou então abandonem o poder”, acrescentou.

Saied ameaçou impedir a prestação do juramento de alguns dos novos ministros, com o risco de agravar as divergências que têm paralisado a ação política.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.